segunda-feira, novembro 28, 2005

Paz - O sonho adiado da humanidade.

A todos os que amam a PAZ.

(…) Pelo menino que fui
e o sossego que desejo
para o velho que serei,
juro nunca me render. (…)
III - Até sempre Sarajevo.
Alguns dos que haviam chegado comigo iriam regressar a casa mais cedo, no final de Abril deste ano da (des) graça de 1994. Para os que como eu ficavam o próximo destino era Mostar, uma cidade a sudoeste de Sarajevo, para onde partiríamos após a integração dos reforços e das substituições chegadas há pouco. Ainda faltavam quase três meses de missão, mais precisamente setenta e dois dias.
Um solavanco na estrada retira-me do cantinho para onde me isolei em pensamentos, apesar de atento e com a arma pronta e em posição. Aprendemos a estar alerta e ausentes ao mesmo tempo, acreditem que o ser humano é capaz de muita coisa quando o alarme da sobrevivência está ligado.
Regressava de mais uma daquelas patrulhas de rotina pela cidade. Esta última semana impunha uma atenção redobrada pois é sempre quando se facilita que os azares acontecem. “Apertava” pois com os novatos que levaria para Mostar. Estes rapagões nórdicos ainda não aceitavam bem as ordens vindas de alguém com pele e cabelo escuro. Não havia a própria igreja católica retratado Jesus com cabelos loiros e olhos azuis? Como se este estereotipo fosse comum na Alta Galileia há 2038 anos. Enfim, assuntos que o tempo resolveria.
Levava diariamente os “tenrinhos” em patrulha ensinando-lhes tudo o que havia aprendido e ao fim de uns dias já me olhavam como um irmão mais velho e não havia gesto ou cautela minha que não imitassem. Estavam a aprender depressa e aquele olhar altivo foi dando lugar a um outro mais próximo da humildade e do reconhecimento. É normal, afinal com o capacete e os óculos tácticos postos os snipers não distinguem a cor dos cabelos ou dos olhos.


(…) Pela verdade que afirmo,
dos que a verdade demandam
até à contradição,
juro nunca me render. (…)

Chegou o dia da partida e fui despedir-me dos “velhos”. Ofereci-me para comandar a escolta da coluna até ao aeroporto. Do grupo inicial só ficavam eu, “Godzilla”, Evans e “Razor”. Quando parámos na placa de estacionamento de aeronaves, apeei, empunhei a arma e acompanhei-os até ao avião. Queria garantir que nada lhes aconteceria a três horas de casa. Não se explica, sente-se.
- Ramon, protect Leijla. Be sure that she will be in the plane next week, ok? 1 - Disse Rob aflito, uma vez que embarcava dez dias antes da sua namorada. Havia conseguido a suspensão da sua missão para casar. Ergui o polegar em assentimento e disse-lhe um palavrão que me havia ensinado na sua língua materna.
- You mad Portuguese, you’re…! 2 – Disse Rob com aquele sorriso de miúdo na cara sardenta.
Abraçámo-nos, não havia tempo para mais. Dirigiu-se para o avião militar que o levaria de volta a casa, a meio do caminho virou-se, cerrou o punho direito, elevou-o no ar e bateu com ele no peito, junto ao coração. Era o sinal da irmandade forjada em pouco tempo mas temperada como o aço, em fogo quente.
Pensei como seria fácil dar a vida por Rob, “Godzilla”, “Gaza”, Evans, Carlo e todos os outros, sem olhar para trás, mas não o faria por gente que conhecera a vida inteira. “Gaza” havia dito uma vez, nas raras vezes que falava, que aqui aprenderíamos a imensa lição da camaradagem e da solidariedade. Como tinha razão. Ia despedir-me dele com a continência e segurou-me a mão puxando-me para ele. Abraçou-me e disse, disfarçando a emoção:
- Ramon, how proud I am…! 3 - Perfilou-se perante mim, ele, um major, fez a continência ali, em frente de todos, até dos novatos, abraçou-me de novo e entrou na fila para o avião militar. Voltei a vê-lo dois anos mais tarde e passámos férias em família, no Algarve, nuns apartamentos nos Olhos de água. Morreu em Agosto de 2001, aos 48 anos, de doença misteriosa, numa quinta perto da sua Luton natal. Jeannie, a sua viúva, é hoje uma das activistas na luta pelo esclarecimento das doenças adquiridas por militares britânicos na Guerra do Golfo e nas que se lhe seguiram.

(…) Pelos amigos queridos
e os companheiros de ideias,
que são amigos também,
juro nunca me render. (…)

Fiquei com a responsabilidade de olhar pelas duas irmãs órfãs de mãe desde a adolescência e agora também sem pai. Dijana ficava sozinha em Sarajevo, feliz mas amargurada pela partida da irmã. Uma médica de uma ONG, que obviamente protejo a identidade, havia sido decisiva no processo de “recrutamento” para aquela organização da enfermeira diplomada Leijla Cican, mexendo uns cordelinhos e retirando-a de Sarajevo com destino à Holanda.
Dijana sentia-se feliz pela irmã e apreensiva pelo seu destino. Algum dinheiro, dez volumes de tabaco e seis caixas de rações enlatadas, tudo contribuição do pessoal, conseguiram o visto para Dijana. Foi connosco em coluna militar até Mostar, onde a protegemos até à data da sua partida no final de Maio de 1994, altura em que embarcou num avião da ONU com destino a Frankfurt e com o carimbo de “Medical Personnel” de uma ONG no passaporte.
Os anos passaram sem nunca os procurar, parecia que tudo tinha acontecido noutro planeta, noutra vida, de tão irreal que é. Face à imensa tragédia da guerra, de que vale a saudade e para quê reavivar memórias?

(...) E até pelos inimigos,

que odeiam a iberdade

e por isso não são livres,

juro nunca me render.

Em Outubro de 2003, nove anos volvidos, juntei-me a uma equipa multinacional de liderança holandesa para ir à Federação Russa, em missão de controlo de armamentos. Tinha a morada de solteiro de Rob e através dela, o meu amigo holandês, Paul Werstratten, com quem já havia servido antes, obteve o número de telefone.
Rob é hoje sargento no exército holandês, casou com Leijla dois meses após a chegada desta à Holanda. Têm duas filhas lindas, fruto da mistura nórdica e bósnia. Vivem nos subúrbios de Amesterdão numa daquelas casinhas típicas. Visitei-os e fizeram questão que ficasse para jantar, mas no tipo de missões em que andava inserido a equipa prevalece e o tempo é curto.
Na despedida Leijla disse-me que a irmã não vivia longe e que trabalhava ali bem perto, num lar para idosos. Fora casada com um amigo de Rob e tinha um filho. Disse-me que a irmã lhe havia dito que teria ido comigo para onde eu a levasse, que jamais se esquecera de mim e que frequentemente falava sobre mim. Ainda guardava uma fotografia que havíamos tirado juntos. Despedi-me de Rob à porta e então Leijla disse-me que a irmã estava ao telefone. Tremeram-me as pernas e a boca secou. Maquinalmente reentrei em casa e peguei no telefone, balbuciando qualquer coisa.
- Ramon...How are you, my angel of Sarajevo? 4 – Já falava inglês.
- I´m... Je souis bien, et toi? 5 – Respondi, relembrando que lhe ouvi as primeiras palavras em francês.
- I’m OK. I wish to see you again! I’ve a soft bed and clean sheets! 6
Disse rindo. Era a primeira vez que a ouvia rir assim, sem medo, feliz. Trocámos mais umas palavras e despedi-me sentindo um nó na garganta.
Entrei no carro. Um frio doloroso invadia-me o estômago. Cantarolei baixinho para disfarçar os soluços:

- Veja bem, é o amor agitando meu coração,
Há um lado carente dizendo que sim,
E esta vida da gente gritando que não.

Sempre gostara de Maria Betânia e das suas hipérboles sobre o amor, mas agora a letra afigurava-se trágica e tristemente real...tão real que doía…muito.
No local de pernoita fui encontrar a equipa no bar. Bebi umas cervejas, despedi-me e retirei-me, soltando um palavrão na minha língua natal, os outros olharam para mim, riram. É universal o sentimento com que se cospe a resignação.
Quis o destino que a voltasse a encontrar, mas nessa noite recordei a sua voz e o meu aniversário em Sarajevo. Então, sem poder reprimir mais o que me ia na alma, chorei por “esta vida da gente gritando que não!”
___________________________________________
1 – Ramon, protege a Leila, assegura-te que ela vai no avião na próxima semana, OK?
2 – Tu, Português louco, tu és…
3 – Ramon, como estou orgulhoso…!
4 – Ramon… Como estás, meu anjo de Sarajevo?
5 – Eu…Eu estou bem, e tu?
6 – Estou bem. Desejo ver-te de novo. Tenho uma cama macia e lençóis lavados!

segunda-feira, novembro 21, 2005

Sarajevo - A morte em cada esquina.




Homo homini lupo

(O homem é o lobo do homem)



Em cima:Sinais nos cruzamentos- Atenção snipers!
Em baixo: Parlamento da BH sob ataque sérvio.

Foto do interior das torres gémeas de Sarajevo (Torres Unis).


II - O Dr. Rambo

Um outro dia de primavera nascia agora radioso mas ainda ofuscado por uma névoa de ar frio que pairava sobre a cidade. A noite que o antecedeu fora relativamente calma, comparada com outras. Estava de vigia enquanto os meus quatro companheiros dormiam ou mantinham os olhos fechados, escondendo os pensamentos.
- Jesus Christ, not again, Carlo has the snoozer on! 1 – Disse Godzilla, referindo-se ao ressonar do cabo dos Carabinieri italianos.
Dei um pontapé na bota de Carlo e este acordou, como sempre, a sorrir e com a pergunta sacramental: Is Roma on fire? 2 - Com aquela pronúncia típica dos italianos era de ir às lágrimas.
- You’re snoring.3 – Disse-lhe, rindo-me.
Virou-se para o outro lado e soltou ruído pelos fundos, acompanhado de uma gargalhada.
- Keep snoring, kepp snoring! 4 - Disse Evans, oferecendo-me um snack crocante.
Aguardávamos que a claridade se instalasse completamente. Estávamos ali, no sétimo andar de uma das torres gémeas de Sarajevo, desde as duas da manhã, aguardando o sinal para o início da caçada. Havíamo-nos deslocado para lá a coberto da noite, guiados por Stefan M..., um oficial do HVO (exército croata da Federação Bósnio-Croata), através das passagens abertas entre os edifícios.
"Caçada de snipers por sniper"
Soldados bósnios encurralam atirador sérvio.
Desde o início de Março que os aviões da NATO obrigavam as forças sérvias a alguma contenção. Acabara a impunidade com que circulavam por todas as estradas e já olhavam para cima antes de se moverem. As noites eram agora mais calmas.
Dias antes, perto da Câmara Municipal, na parte velha de Sarajevo, havia ocorrido o massacre de cinco homens de etnia sérvia. Tinham-se infiltrado através da rede de esgotos para uma qualquer missão e os seus corpos haviam sido encontrados no dia das mentiras por gente de uma Organização Humanitária. Haviam sido degolados à velha maneira otomana e a retaliação do lado sérvio veio sob a forma de disparos a tudo o que mexesse. Estava aberta a caça a todas as espécies.
Na noite da macabra descoberta Stefan, o nosso guia, conduzira-nos até à cave de uma loja de roupas onde, para além dos sinais da matança, encontrámos diversas roupas e manequins. No chão da cave havia um buraco que dava directamente para os esgotos, o qual foi cheio com entulho e armadilhado. Fora por ali que se haviam infiltrado aqueles cinco soldados do exército sérvio.
Carlo havia agarrado num manequim feminino, simulando uma dança e depois aquilo que se imagina. Só ele nos poderia fazer rir naquela altura.
Ainda hoje haverá muita gente a pensar na forma como começaram a ser descobertos e eliminados os snipers a partir daquela data. A ideia surgiu do engenho e da necessidade.
Primeiro vestia-se um manequim com roupas abandonadas. Havia até quem lhe pusesse um cigarro a fumegar na boca. Em seguida sentava-se o manequim numa cadeira e atavam-se duas cordas, uma a cada par de pés da cadeira. Um trio de atiradores dos nossos emboscava-se nos telhados ou nos pontos mais altos dos edifícios em redor. Quando o dispositivo estivesse pronto, dois de nós, um de cada lado da divisão da casa com mais janelas, deitados ou sentados junto ao solo ou a um canto, puxava a cadeira para si fazendo-a passar junto às janelas. Assim que o sniper disparasse revelava a sua posição e o resto é mera acção táctica. O processo repetia-se então noutro local e no caso dos nossos atiradores não terem resolvido a questão logo à primeira, isto é, antes do atirador se aperceber que fora iludido.
Era assim desde a morte do sargento legionário Jean-Marc La Brasse, atingido por um sniper quando socorria um idoso atingido numa perna, na Avenida Obala Kulina Bana, paralela ao rio Miljacka (Miliiaska).

Aprender a sobreviver. Retrovisor anti-sniper

Os snipers costumavam emboscar-se nas encostas sobranceiras à margem sul do rio, ou mesmo nos edifícios mais a sudoeste, no bairro de Ali Pasino Polie. No dia anterior haviam excedido todos os limites. Estavam a escassos duzentos metros, num dos quatro edifícios gémeos, na margem sul do rio e para oeste de um dos quartéis da ONU, instalado no complexo desportivo de Skenderija.
Aquele dia marcou-me, pois era dia do meu aniversário, embora o sargento espanhol Luiz Hilgueras se tivesse oferecido para ir no meu lugar, agradeci-lhe dizendo-lhe que “con mis muchachos voy yo!5.
Esta missão de busca a um dos homens mais procurados da guerra era de comparência obrigatória, não queria faltar, apesar de tudo, incluindo ser este o meu último dia. Ainda assim o ânimo era elevado, antecipava-se já a “petiscada” da noite.
- Ramon, the “Angel” brought the shellfish? 6 – Perguntou Evans, referindo-se ao helicóptero que nos trazia abastecimentos extra de Split, na Croácia.
Acenei afirmativamente, enquanto observava pelo buraco onde havia estado uma janela. Via agora claramente os vultos das pessoas na penumbra, de regresso a casa. Em Sarajevo, naquela época, a vida era feita durante a noite. Ardiam-me os olhos, onde estaria Dijana àquela hora...que olhos meu Deus..e os lábios, carnudos...
Tau, Tau!... Dois estampidos secos, típicos das armas usadas por snipers, ecoaram na manhã.
Tsssssssssttttt...O rádio dava agora sinal de vida. Ia começar a “dança da cadeira”.
- Alpha to all groups; Fox on Golf Two Zero, Golf 2-0, do you copy? Over! 7 – Informou “Gaza”.
- Alpha, this is Alpha three; loud and clear; Fox on Golf 2-0, over! 8– Respondi.
Cada um sabia o que havia a fazer e assumiu a sua posição. Este método de referenciar objectivos deu bastantes resultados por ser pouco convencional. Coloca-se uma mica quadriculada transparente sobre o mapa da cidade, com dois eixos, um de números e outro de letras. Depois, assim que o objectivo é referenciado, é só jogar à batalha naval. As coisas simples são as mais eficazes. Estava grato à matemática, afinal os eixos de abcissas e ordenadas (x e y), sempre eram úteis para alguma coisa.
Tinha-nos chegado a informação de que o “Dr. Rambo”, nome pelo qual era conhecido um dos snipers de Sarajevo, estava encurralado num quarteirão próximo. Segundo se dizia era dentista e havia sido atirador da equipa olímpica da Jugoslávia. A partir de determinada altura, a seguir ao tiro selectivo, era comum ver um ou dois vultos correr para a vítima, debruçarem-se sobre ela e depois desaparecerem. Havia uma certa admiração pela coragem evidenciada debaixo de fogo no auxílio às vitimas, mas estranhamente, muito mesmo, ninguém disparava sobre aqueles indivíduos.

Dizem que era a dele...

Naquele amanhecer, o seu primeiro “tiro ao boneco” denunciara a sua posição. Pouco depois encomendava a alma ao criador, assim como um dos seus adjuntos. Na sua posse foi encontrado, para além do espólio militar, um alicate de dentista e uma bolsa de veludo das que envolvem as garrafas de Chivas Regal Royal Salute. Estava quase cheia de dentes de ouro. No leste da Europa é comum a substituição de dentes por próteses daquele metal. Estava explicado o mistério da correria para os cadáveres.
Aquela manhã tinha menos poeira no ar do que o habitual, nem sequer cheirava a morte. Limpei o Vicks Vaporub que havia posto nas narinas por causa dos cheiros, queria sentir o aroma daquela manhã. Afinal fazia anos.
Fomos a pé em patrulha até ao ponto de recolha, junto à Mesquita de Ali Paxá e dali de VAB até Skenderija. Tudo porque atravessar a pé a ponte com o mesmo nome era acreditar demais na sorte ou em Deus, conforme a crença de cada um.
Vi Dijana de novo, estava com a irmã. Não a via desde a morte do pai, um mês e meio antes. Esperavam por Rob, assim julgava. Dijana trazia um cesto de vime debaixo do braço, sorriu para mim, devolvi-lhe o sorriso e acenei.
Chamou-me, deu-me o cesto com iguarias regionais e desejou-me um feliz aniversário, estendendo-me a mão para um cumprimento. Senti a pele macia e o seu cheiro, o sorriso continuava lindo. Agradeci a oferta com que me presenteavam ambas, despediram-se e foram às suas vidas. Nessa tarde comemorei o aniversário com o meu grupo e já era noite alta quando eu e Rob, seguindo indicações deste, nos escapulimos para o bairro onde havíamos estado de manhã. Chovia agora, como só nos balcãs chove, afinal em Abril águas mil...
Nessa noite, o meu desejo de quase três meses realizou-se por fim, tomei um banho quente de banheira e dormi numa cama fofa com lençóis. Tinha agora trinta e cinco anos e Sarajevo entrava no segundo ano de cerco.

Da Esq. para a dir.: "Gaza"; Rob (chapéu); Evans (arma); Carlo (óculos de sol); Ramon; Mike "The Razor" Wilkinson (à frente); Esteban (atrás) e "Godzilla". Fotógrafo - Pepe "D. Juan".
_______________________________
1- Jesus Cristo, outra vez não, o Carlo ligou o alarme! (ressonar).
2- Está Roma a arder?
3- Estás a ressonar.
4- Continua a ressonar, continua a ressonar!
5- Com os meus rapazes vou eu!
6- Ramon, o Anjo (helicóptero) trouxe o marisco?
7- Alfa a todos os grupos, a raposa está em Golf, dois zero, Golf-2-0, entendido? Terminado!
8- Alfa, aqui Alfa três; alto e claro; Raposa em Golf, dois zero, terminado!

sexta-feira, novembro 18, 2005

Honre-se a Pátria de tal gente...


"Se serviste a Pátria e ela te foi ingrata, tu fizeste o que devias, ela o que costuma."
Padre António Vieira

À memória do camarada de armas

João Paulo Roma Pereira, Sargento Comando caído pela paz e no cumprimento do dever em Cabul, hoje, dia 18 de Novembro de 2005.

Ao rápido restabelecimento dos três outros camaradas feridos.

Deixo-vos este poema de Pedro Homem de Melo, que trazia sempre comigo, plastificado, e que me acompanhou sempre na Bósnia-Herzegovina, exprimindo um desejo e um estado de alma.

"...TALVEZ QUE EU MORRA NA RUA

INVIA POR MIM, DE REPENTE

EM NOITE FRIA E SEM LUA

IRMÃ DAS PEDRAS DA RUA,

PISADAS, POR TODA A GENTE.

TALVEZ QUE EU MORRA ENTRE GRADES,

NO MEIO DUMA PRISÃO,

E QUE O MUNDO, ALÉM DAS GRADES

VENHA ESQUECER AS SAUDADES

QUE ROEM, MEU CORAÇÃO..."


"...TALVEZ QUE EU MORRA NO LEITO,

ONDE A MORTE É NATURAL

AS MÃOS EM CRUZ, SOBRE O PEITO.

DAS MÃOS DE DEUS, TUDO ACEITO,

MAS QUE EU MORRA, EM PORTUGAL!"

domingo, novembro 13, 2005

O Presente do Passado

Só os mortos viram o fim à guerra.
Platão
À memória do médico bósnio Dr. Cican, cobardemente assassinado por um sniper enquanto socorria uma mulher ferida.
Foto de Ron Havic
I - Express 23
Desce mais uma noite sobre Sarajevo, cercada e sangrenta. Tínhamos agora mais apoio desde a chegada de uma força da Legião Estrangeira que veio reforçar o dispositivo da UNPROFOR (United Nations Protection Force).
O mundo já conhecia imagens de soldados ocidentais amarrados por militares sérvios a pontes, antenas e outras estruturas, em claro desafio à comunidade internacional e à NATO. Agora tínhamos, finalmente, capacidade de resposta.
Havia sentido medo ao início, ainda sinto, não aquele medo comum que é, afinal, natural ao ser humano. Era um medo que já havia experimentado nas arenas. É o medo de ter medo, de fugir e não enfrentar o perigo. Nunca tem superação mas controla-se.
Sarajevo, ou o caldeirão, como lhe chamamos, situa-se no vale do rio Miljaska, rodeada por montanhas, numa paisagem que recomendo quando em paz e onde o eco das explosões e dos tiros é mais intenso e ressoa vezes sem conta pelo vale.
Aqui as noites começam pelas quatro da tarde, assim que o sol desaparece por detrás das montanhas, só reaparecendo por volta das sete horas do dia seguinte.
Não há luz, água, gás, medicamentos e comida. Há filas para tudo e a população inocente e mártir sofre. Estranhamente, nem as crianças se ouvem chorar, só passos apressados e aflitos por chegar a salvo ao seu destino, a coberto do escuro.
Esta noite a patrulha é ao longo do principal Boulevard de Sarajevo, a Alameda dos Atiradores (Snipers Alley), até onde esta artéria encontra o cruzamento para Tuzla e Zenitsa, na saída para norte.

Fomos transportados em blindados franceses (VAB’s) e estamos parados há já algum tempo junto à estação dos eléctricos. Anoiteceu há umas horas e tudo parece calmo esta noite. Saímos do veículo e abrigámo-nos atrás do muro danificado da estação dos eléctricos, aguardando a coluna de Jeeps que fará a rendição do pessoal. Finalmente ia dormir a minha primeira noite completa em duas semanas.
Ajeito o auricular rádio e tiro do bolso um chocolate de ração francesa. É que, quando estamos a mastigar coisas crocantes, o ruído de fundo do rádio não se ouve. Faço sinal à minha parelha, um cabo holandês, Rob, para que fique atento ao rádio enquanto eu mastigo. Faço uma pausa na mastigação e...que é isto? – Ouço distintamente música, baixinho, mas é música. De noite, quando a coisa está calma, a única coisa que se ouve é o murmúrio do rio, agora, música?...lá está outra vez!
…“It’s late in the evening, she wonders what clothe to ware...”– É claro agora o som da música de Eric Clapton. Alerto Rob e ele sorri batendo com a mão no bolso lateral das calças do camuflado, indicando-me que é ele que ouve música. É o seu “toca Ka7’s” que se ouve através do auricular, tal é o silêncio.
Um gajo aqui nesta situação e este “tamanco” a ouvir música. Está apaixonado e anestesiado, pronto! – Porque raio se oferecia sempre para as patrulhas nesta zona tão crítica, aliás, a mais crítica?

Toouuup! – Este som cavo assinalava o primeiro tiro de morteiro da noite. Não passava uma sem os cumprimentos da artilharia sérvia, diariamente sempre às 23H00GMT, meia-noite local. Chamávamos-lhe o Express 23. Durava cerca de uma hora e depois era esporádico até ao amanhecer.
Subitamente, assobios, clarões, estrondos, gritos...silêncio. De novo assobios que abafam os gritos, estrondos que causam mais gritos e silenciam outros, clarões que projectam silhuetas humanas e objectos como nos teatros de luzes da minha infância...mais gritos e gemidos, choros e soluços, estrondos, uivos. É o apogeu da insanidade. É a besta humana no seu pior, um festim de selvajaria, tudo porque a raça humana ainda não percebeu que é una na sua espécie, que só há um Deus, os povos é que lhe dão nomes diferentes.
Um uivo maior, tipo comboio a passar num túnel, anuncia a chegada da morte. Estrondo, guinchos de metal retorcido, gritos de feridos e de gente assustada. Um projéctil de morteiro de grande calibre atingiu a carcaça já retorcida e calcinada de um camião e a deslocação de ar virou um dos nossos Jeep’s da coluna da rendição. Tombou de lado e resvalou uma dezena de metros.
Corremos para lá e retirámos os ocupantes do carro em chamas. Nem sei como o fizemos, nem quanto tempo passou, é instintivo, são os nossos camaradas que ali estão e poderia ser eu. Arrastámo-los para a segurança de um alpendre num prédio próximo e alguém nos indicou uma escada que descia para o subsolo. Um médico bósnio, o Dr. Cican, cuidava agora dos nossos camaradas. Duas enfermeiras ajudavam-no, eram suas filhas. O subterrâneo estava cheio de gente ferida e o cheiro...meu Deus, o cheiro!
Rob falou-lhes em servo-croata. Estava explicado o voluntarismo para as patrulhas naquela zona. Uma delas trazia o nome bordado na bata, chamava-se Dijana (Diana), é dona duns olhos negros lindos...

TSSSSSSSSST!...O rádio chamava-me à realidade.
- Take cover, take cover!1 – Gritou “Godzilla”, um canadiano do Quebec, um pouco mais pequeno que um guarda-fato. Agora eram disparos de toda a panóplia de adereços da tragédia balcânica.
- Echo one Romeo; Bravo leader calling. We are under fire from some “boxes” in the southern bank and from Victor four. Reporting two men hounded and one vehicle hit by mortar fire; over! 2 - Gritou “Gaza” ao rádio.
Douglas, o “Bull-Doug”, de 22 anos e natural de Liverpool, conduzia o veículo atingido. Ficou ferido por estilhaços numa das pernas e com um tímpano rebentado. Regressou a casa onde serve numa unidade de treino para operações de paz. O outro ferido, Juan, um oficial espanhol, de 28 anos, ficou sem o pé direito e com 130 gramas de platina na perna do mesmo lado. Visitei-o mais tarde na sua Mérida natal. A prótese não se nota e ainda tem aquele sorriso que lhe enche a cara. O espírito humano não foi amputado e ainda bem. O relatório oficial concluiu por acidente rodoviário. Ainda durava o estado de graça de Radovan Karadijic.
- Echo one Romeo; this is Bravo leader, over! 3 – Chamou outra vez “Gaza”.
A extraordinária semelhança com o futebolista Paul Gascoigne justificava o “nick”. Oriundo do Royal Marine Commando, o líder de equipa, personificava o oficial que se segue para todo o lado. Dava e era o exemplo desde o início da missão. Não era um daqueles oficiais britânicos emproados de que há réplicas rascas noutros exércitos.
Carregámos os feridos para a VAB que os transportou ao aeroporto para evacuação. Para eles tinha acabado um pesadelo, mas começava outro, o dos traumas.
- Echo one Romeo; this is Bravo leader. Two hounded “evac”, over! 4
- Bravo leader; Echo one Romeo, roger and out! 5

Voltei atrás para chamar Rob, que falava com Lejla. Estava ”apanhado”. A irmã, Dijana, fez-me sinal para uma caixa vazia de material médico. Voltei à VAB e agarrei numa bolsa de primeiros socorros. Dei-lha e fiz o mesmo ao meu kit pessoal. Sorriu agradecida. Quebrei todas as regras, mas não resisti ao olhar e ao sorriso que só as mulheres sabem fazer. Chamei outra vez Rob, acenei a Dijana e virei costas para ir ter com os meus. Chamou-me na língua francesa e perguntou-me o nome:
- “Ramon”! – Respondi, dizendo-lhe o meu “nick”.
- Je m’appelle Dijana ! 6 – Respondeu com um sorriso.
Já o sabia, mas gostei de ouvi-lo da sua boca. Aquele olhar...aqueles lábios...aquela voz...uns cabelos negros como azeviche...lindos...
- Tsssst... – Lá estava outra vez a chamada à realidade.
- Bravo leader to Bravo team; regroup, regroup, over! 7
Regressámos ao “conforto” do contentor que nos servia de abrigo. “Lavei-me”, mais uma vez, com “toalhitas”, pois banho com água era uma vez por semana.
Abrimos umas latas de “corned-beef” e bebemos cerveja bósnia e Rakya, uma aguardente local. Batata frita de pacote com um ligeiro, só ligeiro, sabor a ranço, fazia o acompanhamento.
Bebi pelos meus camaradas e pelos inocentes de mais uma obra-prima da estupidez humana. Bebi porque quis, até à exaustão, até o álcool me adormecer de tal modo que não pudesse sonhar. Um banho, lençóis, uma cama fofa...era tudo o que queria. Mais um golo de Rakya...estou...Dijana…
- Hey babe, take a walk on the wild side… – é o “toca-Ka7’s” de Rob. O som saía agora através de umas colunas mini.
Outro golo...fecho os olhos, pesam-me…Dijana...

______________________________________
1 – Abriguem-se! Abriguem-se!
2 – E1R; aqui Bravo líder chama. Estamos debaixo de fogo a partir dos blocos de apartamentos (boxes) na margem sul e a partir do monte Vrace. Reporto um veículo atingido por fogo de morteiro e dois homens ferido, escuto!
3 – E1R; aqui Bravo líder, escuto!
4 - E1R; aqui Bravo líder. Dois feridos evacuados, escuto!
5 _ Bravo líder; E1R, entendido e terminado!
6 – Chamo-me Diana!
7 – Bravo líder para equipa Bravo; reagrupar, reagrupar, terminado!

sexta-feira, novembro 04, 2005

Conversa de Aldeia

Ainda mal tinha posto pé no estabelecimento do Ti Gervásio e da Ti Humildá, daqueles de duas entradas (num lado é mercearia, no outro é taberna e barbearia), quando aquele vozeirão que conhecia desde miúdo anunciou a minha chegada.
- Atão Maneli, por cá ôtra veis?
- Bom dia meus senhores, tudo rijo ou não prestam? - Provoquei, sabendo certa a constatação da 3ª Lei de Newton: Para cada acção há sempre uma reacção igual e oposta.
- A rijeza já me vai faltando onde é precisa e apracendo onde na a quero! - Respondeu de pronto o Ti Carolino, homem de excepcional carácter a quem sempre conheci bons modos e respeitáveis cabelos brancos.
- É, vim até cá matar as saudades! - Respondi, fazendo sinal ao Ti Gervásio para um “caco” para ele e outro para mim. Anuiu, era praxis antiga, desde que me tornara homem. Esperei um pouco para convidar os outros. Estava mesmo a pedi-las.
- Tava a vere que vinhas aqui fazere precuras de médico e depois na recetavas o xarope! – Agora era o Senhor Cabo da Guarda Trindade, como sempre o conhecera. Aposentado já há uns anos, era das pessoas mais queridas da aldeia. Havia sabido resistir sempre à tipicidade salazarista que a Guarda ostentou. Se há pessoa que mereça a adjectivação de altruísta é ele.
- Olha vai falare o presidente, o Jorge dos Paios! - Disse o Ti Manel Cara Dura. Um daqueles cromos que já não se fabricam.
- Atão Maneli, Lesboa tá no memo sítio? - Perguntou o Ti Carolino.
- Está na mesma, como sempre. O dia que puder viver aqui nem olho para trás. Podem crer! - Disse com a maior das convicções.
- Acho beim, tu és daqui na és de lá. Aqui é que tá quem gosta de ti e te respeta. Quem havia de dizere, parece que foi ontem c’andavas ali na chapada da Marinela com as ovelhas do tê avou, sem precisares disso e hoje és quem és! – Retorquiu.
- Se pensam que vos pago mais uma rodada por essa marmelada toda estão enganados! - Disse-lhes, sabendo que o faziam por carinho e respeito.
- Home essa! Na é mentira nenhuma que és difrente duns c‘andam por aí todos cagões...e na valem mais cum caganito d’ovelha!
- Parem lá com isso e deixem-me ouvir o Presidente! - Disse interrompendo agora o Ti Manel Cara Dura, para ver se punha fim àquilo.
Compreendia-os bem, o que lhes doía é que haviam acarinhado muita rapaziada da minha geração, fazendo seus os sucessos deles e agora, muitas vezes, nem os bons dias ouviam. Quantas vezes no apanhar da camioneta para a cidade, onde estudávamos, não vinham aquelas almas com mãos grossas e duras que nem tábuas, darem-nos vinte cinco tostões, ou mesmo cinco escudos, o que na altura era uma pequena fortuna, sempre com a recomendação para que comêssemos bolos de creme que na aldeia não havia. Queriam que as novas gerações não passassem pelo que eles haviam passado.
Que lições de humildade, generosidade, humanidade, de valores e princípios eu recebi desses homens que em comum comigo têm tudo...tudo.
Que saudade dessa gente e do meu Alentejo. O meu sentido de pátria nasceu lá, entre chaparros e azinheiras, entre gente simples mas recta, honesta e leal.
- Ti Gervásio ponha lá aí mais uma rodada e algo para roer, talvez assim me deixem ouvir o homem! - Disse em tom de brincadeira, olhando na direcção da televisão.
Falava o cidadão Jorge Sampaio, titular do cargo de Presidente da República, dizendo que a classe política portuguesa estava vazia de ideias e a sociedade portuguesa parca em figuras notáveis, comentando a contestação da nomeação de uma sumidade qualquer para o Tribunal de Contas. Nem é magistrado, é mestre em direito e filiado no PS. Nada de novo.
Então, para surpresa minha, não é que o ouço plagiar, embora timidamente ou numa imitação rasca, o celebre discurso à nação de JFK?
Das duas uma ou ambas; ou quem lhe escreve os discursos nos tem em pouca conta ou então deveria estar a escrever “dizursos” e ter mais cuidado, uma vez que apesar das bostadas sucessivas feitas pelos sucessivos ministros da deseducação, ainda há por cá rapaziada que se interessa um pouquinho por história do século XX. Curiosa esta gente heim!
Grave mesmo e não quero acreditar que assim haja sucedido, é ter sido o próprio cidadão Jorge a escrevê-lo. Não! Seria demais, o homem tem um assessor para isso, mas para que conste a frase original é mais ou menos assim:
“(…) my fellow Americans, don’t ask what your country can do for you, ask what you can do for your country (…)”.
Quando o ouvi proferir a frase, na versão lusa, quase que…eu sei lá, quase que lhe chamei demagogo. Ó senhor Jorge, olhe que é de boa educação referir-mos sempre os autores. Eu ouvi e não queria crer, qualquer dia teremos outro cidadão qualquer a gritar do alto do Parque Eduardo VII:
- “Free at last, free at last. Thanks God all mighty, we’re free at last!”
Então não bastava já aquela senhora Pinto qualquer coisa ter plagiado artigos duma revista americana de grande prestígio, fazendo crer à plebe ser ela a autora, vinha agora este cidadão com mais esta.
- Maneli, o qué co home disse que até deste uma punhada no balcão? - Perguntou o senhor Trindade.
Expliquei então o que o homem havia dito dos cérebros e dos notáveis portugueses, assim como aquela frase, que os presentes haviam achado de um sentido profundo. Aproveitei, então, para denunciar onde é que esses trastes colocam os filhos deles e os dos amigos, comentando um artigo saído, surpreendentemente, na imprensa diária.
- Ah! Já percebi! – Disse o Ti Carolino, finalmente – escondeu o filho na tal PêTei. Na é lá que tão todos os filhos dos políticos do país a aprenderem a governar as coisas do Estado, até o filho do Otelo?
É verdade ou quase, aqueles prodígios do nosso sistema de educação, todos concentrados no mesmo edifício, comovem qualquer português. Como o cidadão Jorge se referiu à pouca proliferação de mentes brilhantes no nosso país, até dei razão ao Ti Carolino. Urgia criar e manter uma reserva estratégica de excelsa massa cinzenta.
- Ná, o ome tá mas é a escondê-los todos dos amaricanos...hã?, Na, na é amaricados, esses tão no governo! - Disse o Ti Gervásio.
- Não? atão é dos ingleses. Na faltava más nada, levaram-nos o vinho do Porto, as lãs, os trenadores e os jogadores, agora tamem levavam os cabeças, não? – Disse o Ti Manel Cara Dura.
As nossas mentes brilhantes, as que se vão embora, fazem-no porque cá são obliteradas por mestres caducos e assistentes apadrinhados. As que ficam, algumas, vão para o sector privado e outras perdem-se por aí, muitas vezes subalternas de gestores públicos pouco qualificados, como parece que acontece ali para as bandas da CGD.
Durante trinta anos a classe a que o cidadão Jorge pertence geriu os destinos do país como quis e lhe apeteceu, auto regulamentou as suas reformas, quando o “tacho” 1 estava a acabar auto nomeavam-se para o “tacho” 2, aumentaram escandalosamente os quadros da Função Pública com os apadrinhados políticos, fizeram recair sobre os professores a culpa do estado da educação, sobre os polícias a culpa sobre o estado do crime e mais haveria para dizer.
Há funcionárias em ministérios, nomeadas Ad Hoc pela mesma classe a que o cidadão pertence, que fariam corar de pudor a Mónica Lowinsky. Algumas até guardam as joelheiras na gaveta da secretária, que é, diz-se, para quando vão a Fátima não magoarem os joelhos no pagar da promessa por um bom emprego. Sabe-se que a sua subida vertiginosa na carreira o foi de forma absolutamente horizontal.
E o senhor, cidadão Jorge, como mais alto magistrado da nação, decide dizer aos portugueses que eles é que têm de fazer alguma coisa pelo país e não o país por eles, como se tivéssemos andado estes anos todos na boa-vai-ela e vós, os políticos, a sacrificarem-se por nós?
Tenha vergonha, reveja o que disse e não ofenda a inteligência dos outros.
Sabe, cidadão Jorge, muita gente neste país não ocupa lugares de destaque por não lhe reconhecerem o mérito e também, diga-se em abono da verdade, por não terem QI suficiente.
Não, não é ao Quociente de Inteligência que me referia, porque esse, nessas pessoas, tem três dígitos e o da esquerda não é zero. Eles não têm é Quem os Indique! QI, está a ver?
- Para onde cidadão Jorge?
- Para o cargo claro, para onde havia de ser? Então querem lá ver que trinta anos constantemente a fazer fezes é trabalho de pessoas com três dígitos e o da esquerda não é zero?
Ah, já sei! Também foram empregados da PT!