sábado, março 31, 2007

Teoria da Conspiração I

O texto que transcrevo e de que adiciono cópia do pretenso original, agitou os meios políticos em Angola em 1998 e por cá, salvo erro, só o Jornal o Expresso referiu a questão.
O MPLA e o PCP atribuíram a “feitura” da carta aos serviços secretos portugueses. O Almirante Rosa Coutinho confirmou a autenticidade da assinatura e mais não disse.
O contra-ataque foi mortífero. Pouco mais de meio ano decorrido e paradoxalmente ou não num 28 de Maio, “O Independente” divulga uma listagem dos operacionais da secreta lusa, não se sabendo com que intenção o fez e por quem foi instrumentalizado. Os deputados foram a fuga de informação, ao partido que pertenciam é simples deduzir.

A secreta militar foi reorganizada e os “espiões operacionais” distribuídos por diversos ministérios através da Portaria nº 851/99 de 23 de Agosto. Urgia recrutar gente nova e de preferência politizada. Como primeiro acto de assalto ao poder, uma nova geração tomava agora assento na secreta, não podendo esquecer quem os colocara ali e ficando agradecida para o resto da vida.
O segundo acto sucedeu há pouco tempo, com a centralização dos serviços de informação no Primeiro-ministro.

Menos de quatro anos volvidos sobre o aparecimento da dita carta e já sob a égide governativa do actual Presidente da Comissão Europeia, Jonas Malheiro Savimbi foi executado, numa operação com intervenção séria do antigo colonizador, dando razão de ser à frase proferida em tempos por aquele líder:
- Dava-nos mais trabalho uma secção do exército português do que um batalhão do MPLA! (sic).
Aquilo que o MPLA não conseguiu fazer em mais de duas décadas de guerra, foi de repente feito em menos de três semanas. Dá que pensar.
Alguns dos que colaboraram nesse acto contra todas as leis da guerra, são hoje empresários de sucesso na área da segurança em Angola.
Mais haveria por dizer mas ainda não é tempo histórico para o fazer. Deixo, pois, à consideração de cada um, o que melhor lhe aprouver pensar e escrever sobre o assunto.

Em tamanho A4 aqui

Luanda, aos 22 de Dezembro de 1974

Camarada Agostinho Neto


A FNLA e a UNITA insistem na minha substituição por um reaccionário que lhes apare o jogo, o que a concretizar-se seria o desmoronamento do que arquitectamos no sentido de entregar o poder unicamente ao MPLA.
Apoiam-se aqueles movimentos fantoches em brancos que pretendem perpetuar o execrando colonialismo e imperialismo português – o tal da Fé e do Império, o que é o mesmo que dizer do Bafio da sacristia e da Exploração do papa e dos Plutocratas.
Pretendem essas forças imperialistas contrariar os nossos acordos secretos de Praga, que o camarada Cunhal assinou em nome do PCP, a fim de que sob a égide do glorioso PC da URSS possamos estender o comunismo de Tânger ao cabo e de Lisboa a Washington.
A implantação do MPLA em Angola é vital para apearmos o canalha MOBUTU, lacaio do imperialismo e nos apoderarmos da plataforma do Zaire.
Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão á Terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. O FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, dos seus capitais e da sua experiência militar.
Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela.

Saudações revolucionárias
A Vitória é certa

(assinatura)

António Alva Rosa Coutinho
Vice- Almirante

terça-feira, março 20, 2007

Teoria da conspiração ou intelligence eficaz?

Em 21 de Fevereiro de 1978, um submarino nuclear americano sofreu uma avaria e afundou-se no Índico sul, pouca ou nenhuma informação escapa para o mundo, pois estava numa missão secreta. Uma enorme operação de resgate da preciosa carga de oito ogivas nucleares é posta em marcha, mas convenientemente encoberta, ao estilo da Glomar Explorer (Empresa fachada da CIA), a manobra de cobertura era a busca de petróleo. Nada foi recuperado desta vez, o submarino continuou no fundo do oceano com a sua explosiva e preciosa carga, mas os americanos continuavam com o controle do armamento por via remota. Com o passar dos anos e o efeito da corrosivo da água do mar, o submarino partiu-se e os seus destroços espalharam-se no fundo do mar numa extensão de mais de 2000 metros.

Em Setembro de 2003, astrónomos dos Estados Unidos descobriram um grande asteróide que se a aproximava da terra rapidamente e com alta probabilidade de ser atraído pela massa magnética da terra, com a consequente colisão e efeitos devastadores, tendo previsto a data de impacto para 21 de Março de 2014. Com o facto quase confirmado, os EUA decidiram depois de várias reuniões com os principais líderes do mundo e o primeiro-ministro da Índia (único pais afectado presente na reunião) estudar uma solução com vista a resolver este problema da melhor forma.
Expuseram-se várias hipóteses de destruir o asteróide, mas nenhuma era viável ou garantia sucesso absoluto.

O governo dos EUA decidiu aproveitar as oito ogivas nucleares que sobraram do submarino afundado no Índico para provocar uma explosão que, de tão potente, deixaria a terra uns poucos milímetros fora da sua órbita normal e assim o asteróide já passaria ao lado, não sendo atraído pelo campo magnético da Terra.
A operação foi mantida em silêncio, pois os países perto da zona de explosão nunca concordariam com tal medida. Todos os cálculos foram efectuados e o cogumelo nuclear nunca chegaria perto da superfície da água, uma vez que seria uma explosão direccionada para sul, onde não há terra, e os efeitos dissipar-se-iam. A data, no entanto, foi muito mal escolhida ou tudo saiu do controlo da Marinha dos EUA e esta, é a hipótese mais provável.
A explosão nuclear ocorreu a 26 de Dezembro de 2004, encoberta por um suposto terramoto de 8.9, e mais tarde rectificado para 9.0 na escala de Richter, cerca das 8 da manhã (hora local).
As consequências foram devastadoras. Estimavam-se mais de 400 mil mortos, mas como “só” morreram 285 mil, as previsões de mortandade até foram favoráveis.
Correu o rumor na imprensa de que os americanos teriam tido conhecimento, uma hora antes de atingir a costa da Tailândia, do tsunami que se viria a formar e não teriam conseguido avisar ninguém (pudera...). Então os satélites? Os TEWD? (Tsunami Early Warning Devices).

Provavelmente fomos todos salvos devido a este acto à primeira vista horrível, mas que a longo prazo será considerado como salvador da humanidade. Se calhar.
De acordo com o conceituado geofísico norte-americano Richard Gross, o plano até correu bem, uma vez que devido à massa deslocada pela acção da explosão, o dia em que ocorreu teve menos três micro segundos que um dia normal e o eixo da terra inclinou-se cerca de uma polegada, evitando o futuro impacto do asteróide.
Dias depois houve outro terramoto e agora com alerta de tsunami, que não ocorreu. Porquê? Porque a explosão foi controlada e provavelmente só uma carga rebentou e esta mais em profundidade. De acordo com especialistas de renome, é impossível prever a ocorrência de sismos e se assim é, como é que “especialistas” dos EUA afirmaram que poderia ocorrer, nos dias subsequentes, um terceiro abalo da mesma dimensão? Estranho não é?

Como se explica o aumento dos valores da radiação no fundo do mar e a falta de peixe na área, tal qual sucedeu após 6 e 8 de Agosto de 1945, respectivamente os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki?
Como se explica que nas noites subsequentes ao Tsunami tenha havido uma anormal fosforescência no mar?
Como se explica que nessa época do ano inúmeros governantes de vários países da terra, incluindo os EUA, mas maioritariamente do Reino Unido, que costumam demandar aquelas paragens para descanso, hajam sido aconselhados a não ir… por causa da Al kaihda (?).
Como se explica que a Tailândia não haja lançado o alerta de Tsunami? - Pobres tailandeses, os seus sensores submarinos e instrumentos avariaram no momento da explosão. Já repararam que desde aquela data 197 novas espécies subaquáticas, todas elas oriundas das profundezas, apareceram em águas menos profundas e na direcção de correntes que flúem a partir daquela zona? – Coincidências.

Quem sabe afirma que um rebentamento subaquático tem primeiramente o efeito de sucção (recuo das águas) e só depois de expansão (ondas). Tal qual o que aconteceu no dia 26 de Dezembro de 2004 e não aconteceu, nem acontece, nos inúmeros tsunamis, de pequena intensidade felizmente, que assolam as ilhas japonesas.
Os paladinos do neo-liberalismo, travestido de democracia, isto é, da PAX BENZINA, foram os pioneiros em tudo o que é crime contra a Humanidade na era moderna e o que é mais grave é que eles acreditam que são os salvadores da liberdade.

"Se o comum cidadão soubesse o que os seus eleitos fazem em seu nome, morreria de vergonha." - Winston Churchill.

quinta-feira, março 08, 2007

E Deus virou as costas...II

Saímos da área à velocidade que o caminhar em montanha permite, mudando de direcção a cada vinte minutos de marcha e parando dois a cinco minutos para escutar. Amanhecia agora e a neblina substituía a noite. Voltámos a colocar os lenços em volta da boca e nariz para reduzir o efeito de projecção do vapor da respiração. Não dizíamos nada uns aos outros havia quase três horas. Pensamentos maus, pelo menos os meus, mantinham-me acordado e rápido no passo. Se fossemos capturados sabíamos o destino que nos esperava. Ao longe e lá para trás, a espaços, ouvíamos o crepitar de armas ligeiras. Sabíamos da presença naquela área de guerrilheiros bósnios, jordanos, afegãos, albaneses, etc. que vinham de todo o mundo islâmico “ajudar” os seus “irmãos muçulmanos”.
Lá em baixo, junto a um curso de água, um grupo de pessoas fazia algo. Como ia à frente fiz sinal de paragem e rastejei até uma posição que me permitisse observar melhor. Peguei nos pequenos mas potentes binóculos “tasco” e vi então que se tratava de um grupo de guerrilheiros bósnios. Eram cerca de vinte e levavam os prisioneiros que havíamos deixado nessa madrugada com os populares. Informei os meus camaradas da situação e decidimos continuar em direcção a um ponto alto que nos permitisse ter “antena” e sermos exfiltrados. Caminharíamos paralelamente aos guerrilheiros, uma vez que também eles fugiam da zona ocupada pelos sérvios. Comemos o que nos restava das rações e seguimos. A fome e o cansaço eram agora mais uma preocupação.

Após mais de duas horas de caminhada ininterruptas e na mesma direcção, quebrando as regras de movimento, o rádio deu sinal de vida.
- Beaver four, this is Beaver zero tango five, over! – Era para nós!
- Beaver 0T5, this is Beaver 4, over! – Respondi.
- Four, what’s your mark, over?
- 0T5, we are out marked, over!
- Roger, calling again in Alpha Echo Mike, out!
- 0T5, roger and out!
Voltariam a chamar dentro de quinze minutos. Continuámos a caminhada ao longo de uma linha de alturas para noroeste, sempre a subir. Dos vales chegava-nos claramente o ruído de viaturas e o ladrar dos cães no meio da gritaria dos “caçadores”. Procuravam-nos, assim como ao grupo de guerrilheiros. Demos com um caminho de montanha onde eram visíveis as pegadas de botas militares e o padrão da sola indicava-nos que todos calçavam o mesmo tipo de bota, logo, não eram guerrilheiros. As pegadas eram bastante recentes, isso via-se pelo rebordo húmido da pegada. Estavam à nossa frente…o que preparavam?
Após um pequeno declive inclinado a norte, detectei movimento a cerca de quatrocentos metros para a nossa direita e para baixo. Instintivamente fiz sinal para agachar e rastejei até onde me era permitido observar sem ser visto. Uns vultos indistintos desaparecerem na bruma que ainda restava em alguns lugares. Ouvíamos claramente a ladainha dos bósnios na reza da manhã. Tinham parado e ficado ligeiramente para trás de nós.
- Beaver 4, 0T5 calling, over! – Era o rádio outra vez.
- 0T5, 4 listening, loud and clear!
- 4, this is 0T5, pushed the transmitting button 20 seconds, than relieve 10, over!
- 04T, starting now!
Tentavam a localização do nosso sinal rádio para nos tirar dali. Apontei os binóculos outra vez para a bruma, um pouco mais para a frente e sobressaltei-me. O grupo indistinto passava agora um regato a vau para a encosta do nosso lado. Preparavam-se para emboscar os bósnios por cima destes e do no nosso lado da encosta. Caminhavam agora fora da bruma e identifiquei-os. Eram “Tigres” (forças especiais sérvias), a rapaziada do Arkan. O nosso único caminho de saída dali para norte estava vedado e voltar para trás era ir direito ao outro grupo de perseguidores.
- Beaver 4, 0T5, come in 4!
- 0T5, 4 here, come in!
- A “Bird friend” is monitoring you. Point 274, follow the beeper and reach orange spot. The night angel is waiting!
- Pointing 274, over.
- 4, this is 0T5, roger and out.

Estávamos condenados a participar no combate. Decidimos então surpreender os “Tigres”, uma vez que a nossa posição nos dava o domínio da situação por estarmos mais altos, com o sol nas costas e por eles não suspeitarem sequer da nossa presença.
Quando os bósnios quase entravam na zona de morte, Nick lançou uma granada para o binómio da metralhadora pesada, mesmo no meio deles. O rebentamento projectou dois corpos no ar e seguiram-se os gritos dos feridos. Ficaram atordoados, de repente passaram de caçadores a caça. Quem já viu estes rebentamentos a alguma distância tem uma percepção irreal da tragédia. Primeiro é a luz do rebentamento, sem som, depois vêem-se os corpos ir ao ar e só um ou dois segundos depois nos chega o estrondo do rebentamento. Depois, só depois, vem o som dos gritos.
Abrimos fogo…tiros, rebentamentos, ordens de comando, palavrões em todas as línguas, mais tiros. Voltou o inferno num dia de sol. Num repente mães perdem filhos, filhos ficam órfãos, esposas tornam-se viúvas, é a dama de negro a reclamar a sua parte na grande representação da estupidez.
Sempre achei que morreria num dia cinzento com chuva…porquê? Nem eu sei. Quanto tempo durou? Horas, minutos, apenas uns breves instantes? Perde-se a noção de tudo. No fim estava alagado em suor, a face quente, levantei-me e mijei às pinguinhas…que sensações. A adrenalina é uma droga estupenda. Depois vem o amolecer do corpo, o nó no estômago, o zumbido nos ouvidos…Estou vivo!
Evitámos o massacre certo dos bósnios. Os sérvios, apanhados entre dois fogos, dos guerrilheiros por baixo e de cima nosso, pouco poderiam ter feito para saírem dali ilesos. De onde estávamos, foi fácil a eliminação do grupo ou de quase todo. Alguns puseram-se em fuga para norte com os bósnios no encalço, sem levar os feridos que eram agora eliminados pelos Mudjaedin.
Os guerrilheiros gritaram qualquer coisa e acenaram. Pegaram fogo aos corpos dos seus e seguiram. Continuámos a marcha e gritei mandando-os à merda. Eram tão inocentes quanto os sérvios. Fomos revistar os cadáveres em busca de comida, uma garrafa de rákia, uns pães e chouriços deram-nos alento. Ainda bem que os muçulmanos não comem porco nem bebem álcool…alguns. Arranquei o emblema de pano da manga de um deles, não tinha mais de vinte anos. O vento agitava-lhe uma melena de cabelo loiro…parecia vivo. O emblema, escrito em cirílico, indicou-me que eram da Força Delta dos sérvios da bósnia.

Ao entardecer desse dia, numa clareira em altitude, aguardando pelo heli, o rádio avisou-nos para que procurássemos abrigo porque a aviação iria atacar tropas que se aproximavam da nossa posição.
O sol já desaparecia quando o rugido de dois aviões nos arrancou do torpor do cansaço e do álcool. As explosões, muito perto de onde estávamos, confirmavam que o grupo que nos perseguia havia três dias, se encontrava muito perto. Pedras lançadas ao ar pela violência das explosões vinham-nos cair em cima, tão perto estavam de nós os soldados sérvios. No ar, o cheiro a combustível queimado misturava-se com o da cordite das bombas dos aviões. Ouvimos os helis e lançámos uma granada de fumo laranja para nos localizarem. Um deles circulou a clareira enquanto outro descia para nos recolher. Fui o último a embarcar e já lá dentro, olhando para o relógio, vi que estávamos a 24 de Abril, dia do aniversário da minha mãe. Faltava o sub-team Hotel, que só foi recolhido vinte minutos depois de nós a menos de um quilómetro de onde nos recolheram. Uma hora depois aterrávamos em Butmir. Tomámos banho e embebedámo-nos.
Como estariam os meus filhos? Os meus pequeninos do pai…soltei umas lágrimas quando lhes revi a foto na porta do cacifo. Nick deu-me uma palmada nas costas e gritou qualquer coisa. No dia seguinte meteram-nos noutro helicóptero e fomos descansar três dias para Split, na Croácia. Que longe estava a guerra. Não me orgulho de algumas coisas que fiz e rezo a Deus para que poupe os meus ao que passei. Fi-las pelos meus camaradas, pelos meus irmãos de armas…só por eles.
A guerra nunca acaba para quem sai dela com vida…nunca mais!