quarta-feira, junho 28, 2006

Gazeteiros, Pasquineiros e outros...

A vida política democrática, tal como a vida em geral, é baseada em processos de aprendizagem, de vivência, de manipulação, de ocultação do que embaraça e ostentação do que, presumivelmente, demonstre uma ascensão social. É um autêntico show off de poder que inebria os sedentos e que se sabe de exercício impune. É assim a estirpe que nos governa e nada há a fazer, pois as regras da democracia permitem que se esqueça que a maioria dos “votantes” se abstiveram, não se revendo em espectros políticos tendo como consequência uma governação contra a vontade da maioria, esta é a verdade.
Sobre quem impediria então a responsabilidade de por a nu tudo isto? Blindados e escudados no tal dever de informar que, presumivelmente, nos garante a nós, povinho, o direito a ser informado, será pois aos mensageiros dos "deuses", aos arautos das boas e más novas que compete dar a conhecer a verdade, não aquela verdade já filtrada por critérios editoriais ou de conveniência política, mas a verdade real, não fabricada na sede do Partido ou no Conselho de Administração do Órgão de Informação.
Assim seria se o Estado de Direito não tropeçasse nas meras declarações de intenção do texto constitucional, lindo mas inexequível.


Há uns anos, dizia um Professor de Direito, que estaríamos “fritos” o dia em que as gerações de “bacharéis” chegassem ao poder. O que o Velho Mestre previu aconteceu, pois estudantes de várias áreas, in casu do direito, que quando ocorreu o 25 de Abril, frequentavam o quarto ano jurídico foram bonificados com as famosas passagens administrativas, nesse e no ano lectivo seguinte, mas na segunda vez por serem dirigentes estudantis e associativos dos vários núcleos políticos estudantis.
Não admira, naturalmente, pela verdadeira e evidente falta de preparação técnica para a prática do direito, que alguns hajam optado por outras profissões onde a dialéctica fosse uma mais valia no desempenho do novo mister. Assim surgiram alguns comunicadores, paladinos da verdade social e, assim que lhes era dada oportunidade, regurgitavam o seu ódio mal escondido às instituições que lhe facultaram o uso da palavra dessa forma.
Juraram, como idealistas na juventude, buscar e relatar sempre a verdade jornalística, doesse a quem doesse. Nenhum governo lhes calaria a voz quando a verdade estivesse em causa, assumir-se-iam como um quinto poder, capaz até de fazer cair governos. Que garantia para a democracia, que bela havia sido a conquista.


Mas porque se não levantaram contra o minguar de direitos dos beneficiários da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações? Porque será que se mantém caladinhos? Objectividade da análise jornalística? Naaaaaaaa!!!
Acordem portugueses, votantes burros e contribuintes asnáticos, o subsistema de saúde dos “Fazedores de Opinião” é intocável, daí o terem parado os ataques ao governo do Sôr Engenhêro.
Que alguns gazeteiros, pasquineiros, microfonistas, entrevistadores e filmadores eram compráveis já todos sabíamos, hoje, infelizmente, determinámos-lhe o preço. A Caixa de Previdência e Abono de família dos Jornalistas é dirigida por uma Comissão Administrativa, cuja presidência é ocupada pela progenitora do Ministro António Costa e do Director-Adjunto da Informação da SIC, Ricardo Costa. A dita senhora, como não ostenta Costa no nome, não dá nas vistas, uma vez que a sua sina é Maria Antónia Palla Assis Santos. O Ministro José António Vieira da Silva declarou, em Maio último, que esta Caixa manteria o mesmo estatuto, incluindo regalias e compensações muito superiores às vigentes na função pública (ADSE), SNS e os outros subsistemas de saúde.
É nestes momentos que eu gostaria de ouvir a acutilância escarrada de Miguel Sousa Tavares, acérrimo anti funcionalismo público e anti militar, tendo-os já referido como “beneficiários mais que beneficiados que os restantes contribuintes não podem e estão fartos de suportar”. Em contrapartida suportamo-los nós, aos reporteiros, microfonistas, entrevistadores e alguns, embora muito poucos, jornalistas stricto sensu, diga-se em abono da verdade, pois há-os.


Lamentável foi a peçonha com que MST atacou as “benesses” da função pública e de outros funcionários do Estado e não se insurge agora face á desigualdade evidente. Apesar de escrevinhar para aí umas coisas, falta-lhe a dimensão intelectual, culta e artística da mãe, assim como a intelectualidade, a dimensão democrática e a verdadeira essência do ser jornalista, apanágio do pai. É alguém que larga umas atoardas e a sociedade vai desculpando em nome dos seus progenitores, muitas vezes toldado por raivas surdas não tratadas mas tratáveis.
Mais um reporteiro, pois um jornalista relata a notícia e comenta-a objectivamente (não, não é a olhar para a objectiva da câmara), deixando a subjectividade analítica para os especialistas na matéria. Um burgesso, mais um, que apesar da inteligência e pedigree, o canudo, no entanto, a nível comportamental, mal lhe esconde o tamanho das orelhas.
Coitado do meu Portugal…

23 Comments:

Blogger Isabel Filipe said...

"....
Acordem portugueses, votantes burros e contribuintes asnáticos,...."

....como sempre soberbo...e sim

COITADO DO NOSSO PORTUGAL....dói e muito.

Sei dum caso dessas passagens administrativas... que te vou resumir aqui rapidamente: um antigo colega meu de trabalho, estava matriculado em Medicina ...e tinha somente feito uma ou duas cadeiras ... por causa das confusões da altura... deixou de estudar...anos mais tarde... pensou em retornar oaos estudos ... foi à Univ. Clássica de Lx. para saber qual a papeladaque precisva de tratar... ficou a saber ... que tinha o 3º ano de Medicina feito e que poderia matricular-se no 4º....era honesto... virou costas e desistiu...

Beijinhos

29 junho, 2006 14:09  
Blogger Barão da Tróia II said...

Tu tens muita razão, mas enquanto o Mundial não acabar, a malta não acorda. Nesse dia recomeça a Casa Pia, e vamos andando e dormindo alegremente.

29 junho, 2006 15:21  
Blogger O Transmontano said...

É assim. Quem te conhece, sabe que, nada deixas por dizer e nada dizes ao acaso. Tenho pena, muita pena e uma frustração enorme por viver no País que vivo....Sabes amigo? Não sou dos que desistem de lutar mas, começo a sentir-me cansado e triste por ver que todas as gerações que me seguem não têm poder de luta, de choque e mais ainda, são acomodados e não conseguem por isso incomodar esta escumalha de políticos e governantes.
A falta de capacidade obriga-os a dizer sim e, na dúvida, dizem nim.
Dá um toque um dia destes para almoçarmos.
Um abraço meu Amigo.

29 junho, 2006 21:09  
Blogger lena said...

Manel isto já não é Portugal ...

isto não é nada!

e como sempre essa tua capacidade de alerta que eu subscrevo

hoje ouvi sobre os supernumerários e logo a seguir um elogio à Função Pública por estarmos entre os melhores 10 em tecnologia

no entanto hoje também um número considerável de professores não acederam à sua candidatura

estou na função publica, é verdade, mas não fomos nós que arruinamos o país como querem fazer crer

é fácil sermos julgados, como digo (somos o elo mais fraco e quem se "lixa" é o mexelhão) ...

vai ser assim e ainda pior

digo contigo: “Acordem portugueses, votantes burros e contribuintes asnáticos”

não sei onde isto vai dar

sei que pouco ou nada se faz

beijinhos meu amigo e como sempre é com grande prazer que te leio

lena

29 junho, 2006 22:06  
Blogger ALG said...

Isto vai de mal a pior, amigo Manel, está entregue a a uma mão cheia de "eleitos" que só têm feito por estragar tudo, o que nos vale é que o "choque tecnológico" do Sócrates está aí para resolver tudo! Agora é que vai ser, com contas de e-mail para cada cidadão e outras tantas medidas, já somos menos atrasados, segundo o próprio.
Continuam a gozar com todos nós, com um descaramento e a aprovar medidas lesivas atrás umas das outras, sem resolverem o que é importante.
Pobre país este!
Um abraço.

30 junho, 2006 11:31  
Blogger Ana Luar said...

A voz da razão gritou bem alto a indignação de um país em ruínas

No entanto... deixo um à parte:


Acordem (não me estragues o dia) portugueses, (sou mas podia ser Espanhola) votantes (não voto! Seria uma hipócrita) burros (tenho dias) e contribuintes (apenas pk sou obrigada... mas mesmo apenas) asnáticos (jamais, recuso-me, berro, estripo, mas estúpida nuncaaaaa),...."

Deixo um grito de carinho pk o resto, está mesmo lixado.

:)

30 junho, 2006 16:34  
Blogger aDesenhar said...

manel

já vi que continuaste a desenvolver aqui.
subscrevo inteiramente.

Estou feliz por não pertencer ao grupo de votantes burros!

Também não gastei solas a correr para chegar antes das 17.30h, a tempo de fazer uma matricula num colégio particular do meu burgo, para uma passagem administrativa com efeitos imediatos e tornado público ás 9.0h do dia seguinte, e festejado no bar da noite com champanhe.
....................
Quanto ao comediante da TVI Miguel Sousa Tavares!
Adoro ver o embaraço das respostas e o trocadalho do carilho que faz para defender a dama Socas...
Começo a ter pena dele mas a vida custa a todos e o rapaz precisa de uns trocos né!

abraço manel

mama sumae
:)

01 julho, 2006 00:23  
Blogger Um Poema said...

Acabo de desistir do 'Post' que estava a preparar como sequência do que publiquei hoje. E porquê?... Porque não conseguiria dar melhor imagem, desse outro "fazedor de opinião", mais real do que a que aqui li aqui.
E adianto mais, porque, para apoiar todas as verdades evidenciadas neste 'post', não bastaria um espaço de comentário equivalente.
Um abraço

01 julho, 2006 16:05  
Blogger Minda said...

Bem. Depois de ler este pot, só tenho uma palavra. FENOMENAL. Escrita fluente e acutilante, versátil e certeira. Adorei! Cheguei até aqui através do nosso amigo Repórter (a propósito, sabes o que se passa com ele? é que o seu longo silêncio começa a ser estranho e está a deixar-me preocupada!). Vou tentar aparecer mais vezes, porque este espaço tem tudo para ser um lugar muito aprazível para mim (eu que costumo dizer que tenho raízes ribatejanas mas a alma alentejana). Portanto, até breve!

02 julho, 2006 11:30  
Blogger Amita said...

Um excelente texto.Gostei de te ler. Sobre as passagens administrativas tanta gente se aproveitou e goza impunemente este povo brando e sereno que continua a tudo consentir. Haja futebol e romarias... São tão claras as leis por que se regem os "fazedores de opinião" que só não as vê quem não quer. Tudo é abafado, camuflado, distorcido e comemos, sim, comemos tudo o que nos é oferecido num sorriso de "lata" como se de um bom-bom se tratasse.
Um dia escrevi assim num outro espaço:

Sobem os títulos pela casa
Isolada
Expectante
Camuflada de gente
Que não veste o que sente
E se sustenta de trocas
......
Eram mesuras, mezinhas
Saracoteios e fitas
Misturados com o chá da hora
Que se previa longa, dolente
Camuflada em contratempo
Desta música de agora
.....

Obrigado pela sensibilidade das tuas palavras ao meu canto, Manuel, e desculpa este longo texto.
Voltarei para ouvir uma voz que mais alto fala
Um abraço e uma flor da
Amita (branco-e-preto)

02 julho, 2006 17:54  
Blogger LUA DE LOBOS said...

pois e além de tudo a esses reporteiros convinha não soltarem repetidas calinadas - Ex - Miguel Sousa Tavares - "amaricanos", "númaros" e "runiões" entre muitas outras.
Artigo brilhante,
Parabens Manuel.
xi
maria de são pedro

04 julho, 2006 08:42  
Blogger Thiago Forrest Gump said...

Lamentável.

04 julho, 2006 17:58  
Blogger Menina Marota said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

06 julho, 2006 11:51  
Blogger Menina Marota said...

Meu Caro Manel, não tenho conseguido comentar aqui, dá-me sempre erro, mas ao fazer nova tentativa, vejo que já tenho isto a funcionar.
O teu texto é de tal forma translúcido e realista, que não é difícil sequer, ler nas entrelinhas, tudo o mais que tinhas para dizer!
Ler-te, já disse e volto a repetir, é um privilégio! A clareza das tuas palavras, a verdade que não te inibes de esclarecer e dizer, mostram a coragem que hoje em dia, falta a muita gente!
“… Acordem portugueses, votantes burros e contribuintes asnáticos…” eu não diria desta forma.: até porque, a generalidade dos portugueses confia naqueles que eles julgam serem pessoas sérias e cumpridores da palavra oferecida. Porque essa generalidade, quer acreditar, precisa de acreditar, de que os políticos, os comentadores e a própria comunicação social, são PESSOAS DE BEM e que acima dos seus interesses mesquinhos, colocam os interesses do País e dos Portugueses. Mas já vimos que isso não é verdade! As pessoas em quem eles deveriam acreditar, “vendem-se” por lugares de destaque, por ordenados e benesses chorudas! E em quem traiçoeiramente, eles hão-de “bater”? Claro que no funcionário público! Porque eles sabem, que os têm presos de todas as formas. Não podem fugir aos impostos. Não podem abertamente falar, porque são “castigados” e investigados. E porque querem manter o seu emprego, porque ele está escasso num País, onde o desemprego aumenta diariamente.
Há tempos, a propósito de um outro assunto, dizia que me metiam nojo os comentadores. É verdade! Abrindo excepção àqueles que o fazem por profissionalismo, tudo o resto, já não lhes dou a primazia de os ouvir. Mete-me nojo a forma como eles tentam passar e convencer os outros daquilo que lhes interessa. Eu já não os escuto! Sinceramente desprezo todos aqueles que, se servem ostensivamente do poder que lhes foi oferecido e é PAGO por todos nós, para fazerem de nós néscios e iletrados.
E como o meu comentário já se alonga e disso peço desculpa a todos, agradeço-te o comentário que fizeste ontem no meu Blogue e a bela defesa a todos nós Portugueses! Houvessem muitos Homens como tu, frontais e decididos, estes País poderia ser bem diferente!

Um abraço carinhoso ;)

06 julho, 2006 11:54  
Blogger Poesia Portuguesa said...

Manel, a MM disse tudo aquilo que eu te diria.
Um abraço. É mesmo um privilégio ler-te!

;)

06 julho, 2006 11:56  
Blogger Barão da Tróia II said...

Compadre Manel
Acabo de sair do blogue da Menina Marota, na falta de actualização aqui do teu, deixo o comentário aqui. O teu post lá, também me fez correr as lágrimas. Soberbo. Permite-me acrescentar só uma coisa, das 3 vezes que os franciús cá vieram, ainda que ajudados pelos bifes, 3 vezes lhes demos nas trombas, quando nos chamaram vândalos por os sub 20 terem parido o balneário há 2 ou 3 anos, pelo menos só partiram um balneário, não roubaram e destruiram monumentos como os franciús em 1800.

06 julho, 2006 15:36  
Blogger Isabel Filipe said...

....e como hoje é sexta-feira, venho desejar-te um belo fim de semana.

beijinho

07 julho, 2006 11:12  
Blogger aDesenhar said...

olá Manel

mais uma leitura do teu post nunca é demais.
Esperando por novo post, aproveito para te desejar um bom fim de semana.

abraço

mama sumae

07 julho, 2006 11:56  
Blogger agua_quente said...

Pronto, já fiquei a perceber o porquê de algumas coisas que me faziam confusão.
De facto, neste momento dá-se ênfase a uma quantidade de gente que aparentemente sabe de tudo e se pronuncia sobre tudo, perguntando-nos nós de onde lhes vem tamanha "sapiência" (salvo seja...)
Quanto ao Miguel, o rapaz tem aquele ar rebelde já um tanto datado e há quem se babe. :) Para mim, parece-me sempre um bocado ressabiado. É mais um dessa classe que tão bem caracterizas.
Bjs

07 julho, 2006 18:03  
Blogger lena said...

Manel vim reler-te. pois é um privilégio

a tua força e a forma como abordas cada assunto encanta-me

um beijo meu, querido amigo

lena

08 julho, 2006 20:22  
Blogger Mikas said...

A corrupção gera corrupção... infelizmente mas enquanto houver alguém que lute contra isso pode ser que tb o anti-corrupção se espalhe...

10 julho, 2006 21:14  
Blogger Su@vissima said...

Se me é permitido..."colo-me" ao teu post, e concluo...
"Coitado do nosso Portugal!"

Um beijo

19 julho, 2006 13:58  
Blogger Amita said...

Regressei para reler o teu post, tão encantada fiquei com a clareza e frontalidade com que expões os diversos temas, assim como com a verdade neles inserida.
Um bjo, Manel e uma boa semana

23 julho, 2006 19:49  

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