segunda-feira, outubro 17, 2005

Basta de Bostas!

Em conversa de amigos aqui há meia dúzia de dias falou-se dos cortes no funcionalismo público, nas Forças Armadas, entre outros. A opinião foi unânime: Importa tirar o país da crise e acabar com algumas mordomias, mesmo que isso implique carregar outra vez o burro da classe média, da classe pagante ou lá o que lhe queiram chamar.
Tudo certo! Lá vamos ter de pagar mais por uma consulta, ou ser menos comparticipado no seu valor absoluto, o mesmo para os medicamentos, para a comparticipação escolar dos filhos, etc. A pergunta que me assalta constantemente é: Quem me garante que desta vez é que o país vai mesmo para a frente?
A resposta é óbvia e não há político, mentiroso convicto ou compulsivo que se preze que não me assegure que sim, que desta é que é.
A verdade é simples de explicar ao povinho mas eles não querem fazê-lo, não vão as massas interessar-se por política, economia e finanças e depois os seus “tachos” ficam ameaçados pela competência das novas gerações.
Nos meus tempos de faculdade estudou comigo, só até ao terceiro ano, um familiar dum ex-presidente da Assembleia da República, que face às notas que tirava e ao gosto que mostrava em frequentar a faculdade, várias vezes foi convidado a pronunciar-se sobre matérias que não haviam ficado bem esclarecidas da primeira vez. Mestres houve que o aconselharam a mudar de curso, pois aquilo era matéria simples de mais para tão iluminado cérebro. Eles, por muito catedráticos que fossem, não entendiam o sentido e o alcance das respostas dadas às suas perguntas.
Entre os colegas e como era uma pessoa de afável trato, nada pedante, era conhecido pelo “Pau e bola”, isto é, o pau é o um e a bola é o zero, logo o 10. Esta é a nota mínima com que se faz uma cadeira e era a preferida do rapaz. Gostos e capacidades não se discutem.
As razões da insistência eram familiares e o seu sentido do dever impunha-o, não havia linhagem causídica na família? Não era ele ainda um jovem que poderia dar-se ao luxo de perder alguns anos a consolidar conhecimentos adquiridos, nem que fossem por repetição? Acabaria o curso, não restassem dúvidas disso. Não havia prometido em Fátima dez velas do seu tamanho quando finalmente lhe chamassem doutor? Promessas são promessas.
Aquilo é que foi um curso arrancado a ferros. Houve lugar a provas orais realizadas à porta fechada só para ninguém aferir da excelência de resposta com que o rapaz surpreenderia os mestres. Tal excelência de oratória, que certamente envergonharia os colegas, teria de ser recatada da sensibilidade auditiva de outros alunos. Não se poderiam sentir inferiorizados. Afinal não primava aquela casa pela igualdade de tratamento de todos os alunos? Iria agora tornar-se espectáculo público a sublime oratória de tal iluminado?
Esta prática, seguida posteriormente pela amiga, namorada ou lá o que é de um dos envolvidos no caso Casa Pia, começou a ser prática regular até que um MESTRE a interpelou dizendo-lhe: “Sente-se envergonhada por a estarem a ouvir? Não tem dom de oratória? Então escolheu o curso errado!”.
As más-línguas na altura diziam que algumas destas orais eram diferentes das do outro, uma vez que eram executadas em genuflexão, já que o amigo, namorado ou lá o que é, tem outras apetências. Dizia-se!
É claro que o MESTRE que acabou com tal benefício teve as suas agruras. Houve até quem lhe quisesse mover um processo disciplinar por intimidação de examinandos.
Há relativamente pouco tempo cruzei-me com o dito moço que, obviamente, não me reconheceu, isto é, fingiu que não me viu. Está bem empregado, conseguiu a licenciatura ao final de 8 matrículas num curso de cinco. Está num ministério qualquer a vencer quase três mil euros por mês. Diz-se que passou três meses pela banca privada mas que não tinha jeito para contas. Mais tarde passou pela PT, onde estão empregados filhos de presidentes da República, de professores universitários, deputados, ex-ministros, etc. Não lhe agradou o emprego, parece que o punham a tirar fotocópias e a ler processos arquivados, nada que estivesse ainda pendente, não fosse o diabo tecê-las. Agora está num ministério e é minha convicção que facilmente passará despercebido no meio dos outros boys, quer seja pela gritante falta de jeito para as codificações, quer pela evidente incompetência a que já nos habituou a classe política e seus afilhados.
As interrogações permanecem. Face a estes casos e muitos outros, seremos nós que continuaremos a pagar as reformas dessas personalidades asnáticas? O que fizeram de positivo para as merecerem? Que mérito académico, científico ou outro tiveram para ocupar um lugar que seria obviamente mais bem entregue nas mãos de um competente?
Para quando a publicidade das provas nos concursos para cargos públicos?
Para quando casas para os efectivamente pobres e não para indivíduos, ciganos e não ciganos, com Mercedes parados à porta?
Para quando a responsabilização dos titulares de cargos públicos pelos atropelos à lei e não a responsabilização ao órgão em si enquanto ente abstracto?
Até onde nos vamos calar sabendo já o futuro das gerações vindouras se nada fizermos?
A certeza de que estas questões ficarão sem resposta é absoluta e é por isso que me nego a apertar a mão a qualquer político. Não o merecem, não são dignos da minha atenção, educação e cordialidade, pois eles não sabem o que isso é.
Falo e escrevo sem medos, pois até hoje só duas coisas me caíram do céu: chuva e caca de pássaro. Já tentei que alguns artigos fossem publicados no espaço reservado ao correio do leitor, em alguns jornais de renome, não quero outro espaço. Nada, nem resposta obtive. Depois venham falar em liberdade de imprensa e de opinião, como se nós não soubéssemos que estão todos manietados pelos interesses corporativistas e económicos que regem as sociedades de informação.
Isenção? A única que conhecem é a que lhes aproveita ao nível da fiscalidade.
Deixo-vos com uma última interrogação: Como é que num mesmo país, sob uma mesma Lei Orgânica de Funcionamento dos Tribunais Judiciais e um mesmo Código de Processo Penal, o caso “Joana” já está em fase de elaboração de sentença e no “Casa Pia” ainda a procissão vai no adro?

10 Comments:

Blogger Zica Cabral said...

ai Manel é tão bom ler-te! É tão bom ver em palavras o que todos pensamos ( ou uma grande maioria). Mas - e tem que haver sempre um MAS - o que se pode fazer, concretamente, para acabar com a corrupção generalizada no nosso país? Há muito tempo que me pergunto isso e não consigo dar a resposta. Porque tudo o que se escreve cai em saco roto. E porque não havia de cair? Quando é demais, não o publicam como tu dizes e muito bem, quando é só um alerta niguem faz caso. Não é com o voto que poderemos mudar alguma coisa porque os candidatos não variam, se não é o rosa e o laranja e e vice versa . Como os boys tb não variam so mudam de côr consuante a estação, é dificil escolher candidatos que não sejam já corruptos à nascença.
Um beijinhos e queria agradecer as tuas palavras sempre tão simpáticas nos meus blogs
Zica

18 outubro, 2005 08:58  
Blogger Diolindinha said...

Atão bom dia, Sr. Manel! Parece-me que, por fim vai receber a visita d'alguém com nome... Esses aí para cima nã foram batezados... Pois é, tenho a dizer que gosto de pessoas bem dispostas econvido-o a vir tomar u cafézinho à minha humilde casinha. Traga quem quiser!... Serão todos bem vindos!
Uma boa semana

18 outubro, 2005 09:02  
Blogger Isabel Filipe said...

É fácil a resposta Manuel... e todos nós a conhecemos...

no caso da Joana... dois desgraçados estão envolvidos...

quem é que está envolvido no caso da Casa Pia???'..... qtº dinheiro envolveu esse caso????????'...etc.........etc...


Bjs

18 outubro, 2005 12:07  
Blogger Menina Marota said...

Este é realmente um tema "quente" e, que não agrada decerto a muita gente.

Especialmente àqueles que têm o "rabo" trilhado (desculpe a expressão)
Muita coisa se fala da Função Publica, mas afinal e, com conhecimento de causa, a FP é a "Santa Casa de Misericórdia" de muita gente...
Quanto aos julgamentos… do caso Joana não constam nomes sonantes, pois não?
Grata pelas palavras no meu Blog. Fico feliz por sabê-lo meu leitor atento.

Um abraço de boa noite ;)

18 outubro, 2005 23:52  
Blogger José Gomes da Silva said...

Quando tenho a oportunidade de aflorar com o meu pai o tema dos políticos, dos tachos, da corrupção, enfim, da podridão em que mergulhou o país, ele responde-me com duas frases que nunca irei esquecer:

1. Revoluções com cravos nas espingardas? Cravos!???? Não lembra ao diabo!

2.Quanto à situação actual, só à bomba!

Coitado, já tem 82 anos, e os 5000 livros que leu durante a vida devem ter-lhe feito mal...

Quando chegar a esse nível de conhecimento, se chegar, talvez me venhas a ouvir dizer o mesmo... Ou talvez antes...

Um grande abraço, Manel

PS: Nas opções do blogue tens a possibilidade de evitar as msgs automáticas como esta praga que parece estar a invadir o teu. Para isso as pessoas apenas têm que escrever as letras que lêem antes de publicarem os comentários. Decerto já o sabias, mas estou só a lembrar-te porque também sou leitor de comentários

19 outubro, 2005 14:40  
Blogger Leonor C.. said...

Quero fazer um esclarecimento a Zica Cabral, com todo o respeito. Passo a explicar: quando eu fiz o meu comentário só constavam os dos tais anónimos que tantas vezes nos visitam. Daí a minha observação : eu ere a primeira com identificação.Se o"correio" se cruzou no caminho e o que levou o seu comentário fo mais rápido, peço imensa desculpa.

19 outubro, 2005 17:19  
Blogger Diolindinha said...

Enganei-me na identificação e para que saiba quem sou, venho rectificar o outro blog. Espero ter-me feito entender...

19 outubro, 2005 17:21  
Blogger Micas said...

Sem dúvida que este espaço faz a diferença por essa blogosfera, pelos temas sempre tão oportunos e apelativos à reflexão. Depois de ler os comentários já não há mt mais a acrescentar, até porque o texto para além de excelente já diz tudo. Eu continuo a dizer que é urgente mudar as mentalidades.
Agradeço as sempre gentis palavras na minha "casa". Bom fim de semana

21 outubro, 2005 14:18  
Blogger Menina Marota said...

Passei... deixo um abraço de boa noite ;)

23 outubro, 2005 22:20  
Blogger Henrique Santos said...

Por favor, arranja tempo, vai ao montado e faz uma fisga bem forte para certos politiqueiros... Que bom que era, e se quizeres ajuda, devo dizer-te que eu era bom de fisga...
Um abraço enorme, Ricky

24 outubro, 2005 15:34  

Enviar um comentário

<< Home