quarta-feira, setembro 07, 2005

O Animal Político


Decidi debruçar-me sobre o cenário político cá do burgo. Assim de repente, pronto. Não que goste muito, mas sempre são eles que nos vão tolhendo o caminho para o progresso e para a verdadeira paz social. Por interesse próprio, claro, pois tem de haver sempre alguma coisa para se prometer e não se pode fazer tudo de uma vez.
Ele vai ser um fartar vilanagem de jobs para os boys autárquicos, assim como para o séquito de sua alteza real, pseudo republicana, Dr. Mário Soares.
Talvez nas próximas eleições presidenciais vote da mesma forma que o fiz quando foi necessário “correr” com o Dr. Vale e Azevedo do SLB, isto é, votei no Dr. Manuel Vilarinho, como teria votado no Pato Donald ou no Homer Simpson. O que importava era correr com o homem, embora a alternativa fosse fraca, lesando também ele, a seu tempo, o SLB ao “correr” com o Professor José Mourinho para, em seu lugar, colocar um ilustre membro da “Irmandade do Tonel”.
Desta vez votarei no Mickey, no Pateta ou noutro “cromo” qualquer, posto que o “falhado” do poeta-deputado ou deputado-poeta, nem ele sabe, se retirou da luta em nome de uma eventual desunião do partido. Esperava mais dele. Tão imbuído estava dos seus conhecimentos de português, que se esqueceu da figura triste que acabara de fazer, ao engolir em directo e ao vivo um sapo de dimensões ciclópicas.
Da mesma forma que o visto e revisto candidato guardou o socialismo na gaveta, traindo, à época, quem nele areditou, o poeta, de rabo entre as pernas, fez o mesmo aos princípios a que inicialmente se propôs, negando e bem a existência do Sebastianismo, mas engolindo-a de imediato, penitenciando-se, em seguida, com dez leituras sucessivas de O Capital.
Assim sucede porque o burgo é parco de ideias renovadoras e o entendimento sobre alternância democrática situa-se ao nível da alternância de cargos e não de ideias políticas sérias. É a dança das cadeiras. Tenho para mim que o problema é cultural. Em vez de educação sexual nas escolas, que virá a seu tempo e é obrigação primária dos pais, urge a educação cívica, política, sobre direitos e deveres sociais. Mas uma educação deste tipo não lhes interessa promover, pois formar politicamente, não partidariamente, os cidadãos, era dar-lhes uma arma que a breve trecho baniria a maioria da mediocridade que grassa no nosso cenário político.
Mas também a imprensa, ou como agora sói dizer-se, os media, tem um papel fundamental que não exercem, tudo em nome de interesses económicos e de percentagens em audiências. Ao menos no jornalismo escrito deveria proliferar uma vertente mais formadora e não só informadora, esta emoldurada por dúbios interesses editoriais, relegando para segundo plano a sua verdadeira função: A de informar com verdade e isenção, contribuindo para o desenvolvimento cultural da sociedade.
Aprofundemos. Há uns anos um célebre escriba do nosso panorama jornalístico apelidou o Dr. Mário Soares de “animal político”, querendo referir-se à sua adaptabilidade aos novos tempos e aos novos ventos de neo-liberalismo económico, sendo logo seguido por uma catrefada de “colegas” que nem se preocuparam em determinar a origem da “bacorada”, denotando uma de duas coisas ou ambas; ou uma absoluta falta de cultura ou um total desrespeito pelos destinatários da informação.
Nesse dia e nos que se seguiram, Aristóteles andou, onde quer que se encontre, aos tombos na campa. É que o homem foi o autor da célebre frase querendo com ela dizer que o homem, por natureza, é um animal que tem de viver em sociedade, na polis (a cidade estado da Grécia antiga). A frase original rezava assim: Anthropos physei politikon zoon, isto é, o homem (anthropos–thropos), por natureza (physei), politicamente (politikon), é um animal (zoon – zoologia). Há livrinhos de frases feitas, as quais empregues fora de contexto dão nisto.
Agora o homem está de volta e como tenho para mim que os insubstituíveis estão no cemitério, não poderei em consciência, nem por acreditar nos princípios base da democracia, votar na sua recandidatura. A ultima ratio prende-se com o estado das actuais finanças públicas e nos constantes flashbacks que tenho do homem em cima duma tartaruga, creio nas Seicheles, ou num elefante na Índia. Os cofres públicos e o “Zé” e as as “Zefas” de Portugal já não aguentam mais aviões fretados e cheios de “matula” tudo à conta dos mesmos e eles por cá a apertar o cinto, de tal forma que este já se tornou em pulseira de relógio, tal o regime dietético aplicado.
O homem não é um animal político, no sentido jornalístico ou noutro sentido qualquer, é antes um sedento de poder, crente de forma alucinada na sua pseudo capacidade para salvar a pátria. Cobra-nos o seu grande passado de lutador político de forma cínica, metódica, coadjuvado pelo homem com nome de filósofo e só, num plano sem precedentes para uma governação sem oposição de qualquer espécie.
Bem sei que a oposição não se opõe, que o líder do maior partido do contra não tem estatura, que o discurso do PC está gasto e démodé, que o BE não é alternativa, ou será? – Que o CDS-PP, o quê?
A democracia e os seus princípios estão doentes numa escala sem precedentes, os seus agentes esquecem-se por quem são mandatados e a quem deveriam dirigir os actos da sua governação, fazendo-o antes no seu interesse e para os interesses partidários que servem.
Enfim, é o Isaltino e o familiar-taxista rico da Suiça, é o Valentim com o seu passado “imaculado” desde os seus tempos de cadete na Academia Militar, é o queijo limiano e a Fátima Torres. É verdade que também há disto lá fora, só que são punidos e impedidos de voltarem a exercer cargos públicos. Não, não há animais políticos no sentido aristotélico do termo, há sim é bestas interesseiras que colocam acima das necessidades dos que os elegeram o interesse do partido que os protege ou do grupo de interesse económico que servem.
Porque mais havia por escrever e muito mais há para pensar fico-me por aqui, talvez vá ouvir “Eine Kleine nacht musik“ e ler um pouco.

4 Comments:

Blogger José Gomes da Silva said...

Ouve antes o "Carnaval dos Animais" de Camille Saint-Säens. Tem trechos musicais lindos, impressionistas e impressionantes, como é o caso do "Elefante" (com o som grave causado pelo seu enorme peso), do "Burro" (zurrando compassadamente), e, já agora, termina com "A Morte do Cisne" e bebe mais um gin tónico...

08 setembro, 2005 18:26  
Blogger Menina Marota said...

"...O homem não é um animal político, no sentido jornalístico ou noutro sentido qualquer, é antes um sedento de poder, crente de forma alucinada na sua pseudo capacidade para salvar a pátria..."

Dizer que concordo a 100% com o texto, não chega para mim... porque me apetecia dizer mais alguma coisa... mas sinceramente, creio que já não há salvação possivel e o Povo anda cego...ou surdo?
;)

12 setembro, 2005 12:33  
Blogger Micas said...

O Povo não anda cego nem surdo, simplesmente fala muito e faz pouco...nós portugueses somos muito acomodados às situações. São mt poucos aqueles que tentam fazer alguma coisa. Este texto está excelente. Sim, é urgente mudar portugal, mas antes disso é necessário mudar mentalidades...
Grata pela visita, eu gostei imenso deste montado e vou voltar.

15 setembro, 2005 07:09  
Blogger Zica Cabral said...

estou com o furão.....ouve o Carnaval dos Animais. Embora eu adore Mozart e o Eine Kleine Nacht Music acho que é demasiado doce (e mais te diria acerca disso mas noutra ocasião).
Tens toda a razão quando dizes que ninguem quer um povo educado civicamente e com uma verdadeira consciencia politica. Se assim fosse, os palhacitos que estão no poder nunca para lá teriam ido.
O povo quer-se bruto, analfabeto e a cheirar a vinho não é? O povo quer-se a não pensar porque se pensa e de repente tem consciencia do que se passa com o seu País dá ao rabo e agita muita coisa. E isso não convém aos bem falantes que vão atirando poeira para os olhos de quem passa.
Por isso a educação tem vindo a descer de nivel cada vez mais. Por isso os numeros vergonhosos que ainda há pouco sairam......... e os que não sairam mas que estão há vista desarmada. Que a maioria dos jovens deste país não lê, não sabe escrever (literalmente) nem sabe interpretar o pouco que ainda os obrigam a ler.
Educação? Onde está? Sabemos que é um mal da cultura europeia e america , a educação em funil mas em Portugal até o funil tiraram.......
beijinhos

21 setembro, 2005 21:41  

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