Provas do vento que passa...
"ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”
(Eça de Queiróz, 1867 in “O distrito de Évora”)
As memórias boas tendem a desaparecer mais rapidamente do que as más, comigo é assim e não encontro explicação razoável para a realidade que me atinge.
No esforço para recordar um bom momento somente pálidas imagens emergem, nuas e simples, mas nunca a sensação de felicidade dada pelos sentidos ou o torpor físico sentido no momento, esses são meros decors no cenário insípido da realidade. Ao contrário, as más memórias, quais embalagens de promoção com vários acessórios, vêm com cheiros, náuseas, sons, dor física e toda a panóplia de bad feelings que fariam as delícias de qualquer psicoterapeuta.
Durante uns tempos, após o meu regresso da Bósnia, ainda frequentei a treta da terapia de grupo, assim como tomava religiosamente todo o cardápio de medicamentos que me receitavam. Cada refeição parecia uma promoção de smarty’s, tal o colorido e a quantidade de “dissipadores da realidade”. Aqueles indutores de acalmia eram de alta qualidade e deveria tê-los ao meu alcance lá e não após o regresso. Têm o condão de proporcionar uma experiência extra corporal e de insensibilidade ao tempo e à realidade que nos rodeia…era cá com cada “moca”!
Depressa me deixei de “drogas” legais e adoptei a terapia do futebol. Todo o sagrado fim-de-semana lá ia eu, por duas horas, para a cura de stress. Estou infinitamente grato a todos os intervenientes do jogo. Por ¼ do valor da sessão com a psicanalista e pelo dobro do tempo, passava duas horas a conotar árbitros e jogadores com bovinos, caprinos, suínos e outros animais, do mesmo modo que clamava pela sua filiação e subsumia-a a progenitoras de estirpe mundana. A Dr.ª “Boazona”, a psicanalista, era um daqueles monumentos que povoam o imaginário masculino, mas o olhar frio, profissional e aquela voz monocórdica não elevavam a moral no baixo-ventre. Cheguei a pensar se aquela voz era meramente profissional ou se era natural, é que se fosse mesmo dela, ouvi-la durante uma “Keka” seria o mesmo do que ouvir o motor de um Fiat 600 a roncar dentro de um Ferrari F40. Assim a imaginei.
Passadas as duas horas, com as cordas vocais a necessitarem de repouso e com as reservas de adrenalina já exauridas, lá regressava ao meu mundo mais aliviado e grato por, no meio da turba, nenhum dos intervenientes me ter ouvido, mas lá que aliviava…
Passou mais uma comemoração do 25 de Abril e a situação que Portugal atravessa traz-me desgostoso, revoltado e f..**** com estes estercos que nos governam. Que me perdoem os estercos, os verdadeiros e não estes sucedâneos, mas com algum nome teria de conotar esses abjectos que o povo, na sua infinita esperança na mudança, vai colocando no poder para que se satisfaçam a si próprios e às corjas que lideram e servem.
Trinta e dois anos decorridos sobre o golpe militar que, pretensamente, devolveria a esperança a Portugal, perdida após o descalabro da I República, descobriu agora a retórica Socratiana (nunca Socrática, seria confundir merda com brilhantina), que a culpa dos atrasos do país está nos funcionários públicos em geral, isto é, em todos aqueles que são funcionários do Estado. Urge penalizá-los nos “chorudos” ordenados, nas “infindáveis” regalias, nas “soberbas” reformas, em suma, há que condená-los pelo atraso do país. Coitada da classe política impoluta, generosa, verdadeira, mal paga, não traficante de influências, não empregadora de filhos, conhecidos e outras clientelas, coitados desses enjeitados da fortuna que nos servem na difícil arte de governarem o país, coitados…
Exige a ética democrática que se purgue já a função pública pelas derrapagens orçamentais do CCB, Ponte Vasco da Gama, Expo 98, Euro 2004, Casa da Música e outras megalomanias típicas de liliputianos cerebrais.
Belo Estado de Direito em que os (en) comendados são ex-PIDES, ex-Bombistas, pedófilos, crápulas responsáveis pela fuga de recursos importantes do país, enfim, toda uma corja de dejectos que nos tornam a risota do mundo civilizado.
Hoje, como há trinta e dois anos, somos últimos na Europa, o que mudou?
O trabalhador comum reformado continua a viver mal, já os há a estacionar carros, a pedir desculpa por pedirem uma ajuda que reforce a “choruda” reforma por anos de trabalho árduo e “bem pago”, outros vão à sopa dos pobres ou arrastam-se pelo metropolitano da capital…que vergonha sinto!
O propósito de reduzir efectivos na “tropa” não foi só por questões de enquadramento europeu e economicistas, foi também para retirar capacidade de comando ao capitão, uma vez que hoje, ao contrário dos jovens capitães de Abril, não comanda o mesmo número de homens, pois há coronéis a comandar efectivos de companhia e inferior, e estes, já em idade de serem avós, com os ímpetos idealistas de juventude já esquecidos, não entrariam nunca em aventureirismos…nunca numa “democracia”, onde o político pode estender o rebuçadinho amanhã e dar-lhes as estrelas de general, a gestão de um qualquer instituto público ou os estaleiros de Viana do Castelo.
Os chefes militares politizaram-se, olham mais aos seus interesses do que aos dos homens que comandam, são burocratas de uniforme e esqueceram a vertente castrense. São os guerreiros do Windows XP, comandando forças virtuais em cenários que nunca pisaram, os políticos sabem-no e sabem perpetuar esta casta de “invertebrados” sob a sua alçada e controle. Ao distanciarem os comandantes dos comandados, as Forças Armadas em sentido estrito não o são mais, são antes peças de manobra no tabuleiro dos interesses políticos, as chefias sabem-no, consentem-no e sabes-lhe bem, pois ser hoje bom militar passa necessariamente pela genuflexão cerebral e ter sempre o esfíncter a jeito.
Daqui se exclui a capacidade de, por manu militari, um dia se impor um verdadeiro Estado de Direito, a nova revolução nascerá nas ruas quando as novas gerações se aperceberem que têm o futuro comprometido, que as novas classes dirigentes surgidas com o 25 de Abril são oportunistas legitimados com o voto popular, importando mais esta legitimidade do que as promessas vãs com que adoçam os ouvidos da populaça, mentindo-lhes descarada e repetidamente.
Em nota de rodapé, lá pedi desculpa ao meu “pedinte” habitué por não poder mais dar-lhe a moedinha diária. Passou a ser um imperativo moral. Expliquei-lhe que, de manhã, no trajecto entre as estações de metro de Alvalade e o Saldanha, contei dezassete pedintes, três vendedores da Revista CAIS, um violinista acompanhado por uma aparelhagem, uma vendedora de pensos dizendo-se refugiada da Bósnia e duas crianças em idade escolar. Propus-lhes que passem palavra uns aos outros e acordem numa data para irem para a Assembleia da República reivindicarem o direito de receber esmola, talvez assim os estercos se apercebam da miséria que grassa pelo país e todos sejamos aumentados para podermos voltar a dar a “esmolinha” do costume.
Temo pelas novas gerações numa sociedade liderada por gente sem valores e percebo agora porque é que o Tony Guterres é o Alto-comissário para os refugiados, pudera, com a experiência e treino que adquiriu no pátrio solo…
(Eça de Queiróz, 1867 in “O distrito de Évora”)
As memórias boas tendem a desaparecer mais rapidamente do que as más, comigo é assim e não encontro explicação razoável para a realidade que me atinge.
No esforço para recordar um bom momento somente pálidas imagens emergem, nuas e simples, mas nunca a sensação de felicidade dada pelos sentidos ou o torpor físico sentido no momento, esses são meros decors no cenário insípido da realidade. Ao contrário, as más memórias, quais embalagens de promoção com vários acessórios, vêm com cheiros, náuseas, sons, dor física e toda a panóplia de bad feelings que fariam as delícias de qualquer psicoterapeuta.
Durante uns tempos, após o meu regresso da Bósnia, ainda frequentei a treta da terapia de grupo, assim como tomava religiosamente todo o cardápio de medicamentos que me receitavam. Cada refeição parecia uma promoção de smarty’s, tal o colorido e a quantidade de “dissipadores da realidade”. Aqueles indutores de acalmia eram de alta qualidade e deveria tê-los ao meu alcance lá e não após o regresso. Têm o condão de proporcionar uma experiência extra corporal e de insensibilidade ao tempo e à realidade que nos rodeia…era cá com cada “moca”!
Depressa me deixei de “drogas” legais e adoptei a terapia do futebol. Todo o sagrado fim-de-semana lá ia eu, por duas horas, para a cura de stress. Estou infinitamente grato a todos os intervenientes do jogo. Por ¼ do valor da sessão com a psicanalista e pelo dobro do tempo, passava duas horas a conotar árbitros e jogadores com bovinos, caprinos, suínos e outros animais, do mesmo modo que clamava pela sua filiação e subsumia-a a progenitoras de estirpe mundana. A Dr.ª “Boazona”, a psicanalista, era um daqueles monumentos que povoam o imaginário masculino, mas o olhar frio, profissional e aquela voz monocórdica não elevavam a moral no baixo-ventre. Cheguei a pensar se aquela voz era meramente profissional ou se era natural, é que se fosse mesmo dela, ouvi-la durante uma “Keka” seria o mesmo do que ouvir o motor de um Fiat 600 a roncar dentro de um Ferrari F40. Assim a imaginei.
Passadas as duas horas, com as cordas vocais a necessitarem de repouso e com as reservas de adrenalina já exauridas, lá regressava ao meu mundo mais aliviado e grato por, no meio da turba, nenhum dos intervenientes me ter ouvido, mas lá que aliviava…
Passou mais uma comemoração do 25 de Abril e a situação que Portugal atravessa traz-me desgostoso, revoltado e f..**** com estes estercos que nos governam. Que me perdoem os estercos, os verdadeiros e não estes sucedâneos, mas com algum nome teria de conotar esses abjectos que o povo, na sua infinita esperança na mudança, vai colocando no poder para que se satisfaçam a si próprios e às corjas que lideram e servem.
Trinta e dois anos decorridos sobre o golpe militar que, pretensamente, devolveria a esperança a Portugal, perdida após o descalabro da I República, descobriu agora a retórica Socratiana (nunca Socrática, seria confundir merda com brilhantina), que a culpa dos atrasos do país está nos funcionários públicos em geral, isto é, em todos aqueles que são funcionários do Estado. Urge penalizá-los nos “chorudos” ordenados, nas “infindáveis” regalias, nas “soberbas” reformas, em suma, há que condená-los pelo atraso do país. Coitada da classe política impoluta, generosa, verdadeira, mal paga, não traficante de influências, não empregadora de filhos, conhecidos e outras clientelas, coitados desses enjeitados da fortuna que nos servem na difícil arte de governarem o país, coitados…
Exige a ética democrática que se purgue já a função pública pelas derrapagens orçamentais do CCB, Ponte Vasco da Gama, Expo 98, Euro 2004, Casa da Música e outras megalomanias típicas de liliputianos cerebrais.
Belo Estado de Direito em que os (en) comendados são ex-PIDES, ex-Bombistas, pedófilos, crápulas responsáveis pela fuga de recursos importantes do país, enfim, toda uma corja de dejectos que nos tornam a risota do mundo civilizado.
Hoje, como há trinta e dois anos, somos últimos na Europa, o que mudou?
O trabalhador comum reformado continua a viver mal, já os há a estacionar carros, a pedir desculpa por pedirem uma ajuda que reforce a “choruda” reforma por anos de trabalho árduo e “bem pago”, outros vão à sopa dos pobres ou arrastam-se pelo metropolitano da capital…que vergonha sinto!
O propósito de reduzir efectivos na “tropa” não foi só por questões de enquadramento europeu e economicistas, foi também para retirar capacidade de comando ao capitão, uma vez que hoje, ao contrário dos jovens capitães de Abril, não comanda o mesmo número de homens, pois há coronéis a comandar efectivos de companhia e inferior, e estes, já em idade de serem avós, com os ímpetos idealistas de juventude já esquecidos, não entrariam nunca em aventureirismos…nunca numa “democracia”, onde o político pode estender o rebuçadinho amanhã e dar-lhes as estrelas de general, a gestão de um qualquer instituto público ou os estaleiros de Viana do Castelo.
Os chefes militares politizaram-se, olham mais aos seus interesses do que aos dos homens que comandam, são burocratas de uniforme e esqueceram a vertente castrense. São os guerreiros do Windows XP, comandando forças virtuais em cenários que nunca pisaram, os políticos sabem-no e sabem perpetuar esta casta de “invertebrados” sob a sua alçada e controle. Ao distanciarem os comandantes dos comandados, as Forças Armadas em sentido estrito não o são mais, são antes peças de manobra no tabuleiro dos interesses políticos, as chefias sabem-no, consentem-no e sabes-lhe bem, pois ser hoje bom militar passa necessariamente pela genuflexão cerebral e ter sempre o esfíncter a jeito.
Daqui se exclui a capacidade de, por manu militari, um dia se impor um verdadeiro Estado de Direito, a nova revolução nascerá nas ruas quando as novas gerações se aperceberem que têm o futuro comprometido, que as novas classes dirigentes surgidas com o 25 de Abril são oportunistas legitimados com o voto popular, importando mais esta legitimidade do que as promessas vãs com que adoçam os ouvidos da populaça, mentindo-lhes descarada e repetidamente.
Em nota de rodapé, lá pedi desculpa ao meu “pedinte” habitué por não poder mais dar-lhe a moedinha diária. Passou a ser um imperativo moral. Expliquei-lhe que, de manhã, no trajecto entre as estações de metro de Alvalade e o Saldanha, contei dezassete pedintes, três vendedores da Revista CAIS, um violinista acompanhado por uma aparelhagem, uma vendedora de pensos dizendo-se refugiada da Bósnia e duas crianças em idade escolar. Propus-lhes que passem palavra uns aos outros e acordem numa data para irem para a Assembleia da República reivindicarem o direito de receber esmola, talvez assim os estercos se apercebam da miséria que grassa pelo país e todos sejamos aumentados para podermos voltar a dar a “esmolinha” do costume.
Temo pelas novas gerações numa sociedade liderada por gente sem valores e percebo agora porque é que o Tony Guterres é o Alto-comissário para os refugiados, pudera, com a experiência e treino que adquiriu no pátrio solo…